Depois de muito investigar, cheguei à conclusão do que se passou durante a Santa Ceia de Jesus e os seus discípulos, estando o primeiro prestes a ser crucificado pelos romanos. Mas antes disso, houve o nascimento de Jesus, e a saber que o menino recebeu presente dos três reis magos (o nome dos Três Porquinhos são Baltazar, Gaspar e Melchior?), deve ser por isso que no Natal se recebem presentes, nada aliás a favor da teoria da conspiração que afirma que o Natal foi inventado, nos moldes atuais, pela empresa Coca–Cola.
Bem, estou a misturar alhos com bugalhos, de forma impertinente, pois nem religioso sou, embora seja cristão (via cultura) e por isso me desculpo desde já pela troca das bolas.
Estudando um pouco Jesus de Nazaré, a sua figura histórica, apreendo que o mesmo era um bom sujeito, discreto e que pregava a moderação. Desconfio da sua fala aos seus apóstolos estando em vias de morrer. Erguendo uma taça de vinho, abraçado por Maria Madalena, ele deve ter proclamado: “Meus discípulos, disseminem pelo mundo, através do Evangelho, a obrigatoriedade de todos se comportarem feito idiotas na véspera natalina.
Orientem-nos a arrebentarem os seus cartões de créditos, fazerem excursões para centros de compras populares, tais como Oiapoque em Belo Horizonte, Rua 25 de Março em São Paulo, o Mercadão de Madureira e o Saara no Rio de Janeiro (todas regiões de aglomerações no Brasil). Deve-se disseminar a compra inconsequente, os atropelos e, se possível, disseminem a ideia de que é importante aparecer ao fundo de uma câmara de TV, dando um “tchauzinho” e tratando de aparecer o mais que podem. Tudo deve ser obrigatoriamente caótico”. Mensagem eficiente, diga-se de passagem. A maioria da população procede dessa forma.
E, seguindo o seu discurso, Jesus pede para anotarem o que espera do Natal. Nada de reflexão e entendimento pela comemoração do seu nascimento. Jesus orienta os discípulos que anotam, sabiamente: “Deve-se reinar a baixaria na noite de 24 de dezembro. Necessariamente. Deve-se orientar todos a comerem feitos porcos (para ser politicamente correto com a causa animal, falo porcos com o devido respeito) e a beberem como alcoólatras inveterados. Necessariamente ao lado de familiares insuportáveis e de quem, na verdade, não gostamos nada.

Não quero ambientes reflexivos, oriento sim a originalíssima música da Simone, Então é Natal (aqui no Brasil é uma música chata pra burro), para logo em seguida tocarem, no último volume, músicas clássicas que são o funk, axé e pagode (ritmos não menos insuportáveis do Brasil). Tudo muito alto. Não é necessário respeitar o sono de vizinhos (quem essas bestas pensam que são, ousando ou tentando dormir na minha orgia celebrada?!)”.
Só pode ser isso. Notável perceber que essa tradição capenga custa a acabar. Culpa dos média, costumes atrasados e o nosso famoso pertencimento a um rebanho (exceto alguns, como eu, cara pálida!). Nesse período, liga-se a TV para um noticiário e tudo o que se vê diz respeito à comilança, gastança, shoppings centers cheios e a tradicional correria. Você é obrigado a participar de inúmeros “amigos secretos” e deve necessariamente comprar presentes para membros da família (bem faz eu que me desobriguei dessas baboseiras todas).
O saldo da celebração natalícia é quase sempre uma catástrofe: devido à pajelança, você descobre que está com uma intoxicação alimentar, que já não pode viver sem uma cerveja ou alguma substância alcoólica, pois definitivamente foi no Natal que começou a sua cirrose, definitivamente está agastado com a discussão entre duas tias, três primas e até com a sua mulher que entrou no meio do rolo e já vislumbra para o mês seguinte o cartão de crédito estourado, pois assim que chegarem as faturas, observará que estourou o orçamento dos seis primeiros meses.
E tudo por conta de um bacanal que deveria ser sim um momento de reflexão, introspeção e oração para o homenageado da época. O Natal deveria ser o renascimento dos nossos atos e gestos, a nossa mudança de atitude mais genuína para fazermos morrer em nós atitudes e gestos viciados.
Desconfio que esteja a ser mais cristão do que muitos cristãos. Mas não tento alcançar a fé na transcendência. Se para ser crente deve-se obrigatoriamente perder todo o senso de atitudes ridículas, prefiro continuar no meu estranhamento a esse regime de rebanho. Valha-me Deus!