É já amanhã! O festival de Cinema Porto/Post/Doc está de volta. Com ele, o conceito “Cidade” é refletido, debatido e comunicado, tal como se lê no site oficial da organização: “Depois da emergência climática, mas também da emergência migratória, da urgência turística ou da indigência sub-proletária, que circula já sem sem bairro, sem pertença alguma. Neste intenso agora, que é sempre o tempo do depois, as cidades já não são abrigos, deixando, inexoravelmente, sem-abrigo os mais vulneráveis dos seus cidadãos“. Mas afinal, onde fica o cinema no meio disto tudo?
É precisamente essa resposta que o Festival procura dar a todos os espectadores, artistas, e, principalmente, a todos os cidadãos. Os palcos não são novidade, com as sessões de cinema a intercalarem-se entre o Teatro Municipal do Porto – Rivoli, Cinema Passos Manuel, Planetário do Porto – Centro de Ciência Viva e a Escola das Artes – UCP.
Mas não é tudo! Nesta nova edição, graças ao constrangimentos originados pela pandemia do Covid-19, quem quiser poderá assistir a uma parte do Festival apenas através do seu computador. Podem encontrar a “sala online” aqui. A plataforma disponibiliza mais de 50 filmes da programação de 2020 do Porto/Post/Doc, incluindo 33 estreias nacionais. O passe online, que dá acesso ao visionamento de todos os filmes disponíveis, custa 12 euros. Uma curta-metragem 1 euro e cada longa-metragem 2,5 euros.
O Programa é composto por categorias como “Competição Internacional“, “Cinema Falado“, “Transmission“, entre outras. Podem consultar toda a programação aqui. Quem preferir ver as sessões por dia específico, cliquem aqui. O Porto/Post/Doc 2020 acontece entre os dias 20 e 29 de Novembro.
Mais para a frente, iremos abordar de forma mais detalhada as categorias presentes na edição deste ano do Porto/Post/Doc. Ate lá, OBarrete esteve à conversa com um dos membros da direção do festival, Sérgio Gomes, de forma a compreender melhor os desafios e os objetivos de toda esta celebração da Sétima Arte.
O vosso tema central, “A Cidade do Depois”, é bastante sugestivo e reflexivo. Os filmes que escolheram penso que são, precisamente, uma projeção disso mesmo, mas de onde veio, de facto, esta ideia/necessidade d’A Cidade do Depois?
R: Depois de em 2019 o tema central do festival ter sido “Identidades” onde a identidade territorial foi também discutida, decidimos refletir acerca algumas das problemáticas em torno da cidade e do cinema, desde a modernidade até aos dias que correm.

Falam na vossa descrição que visam atender às “transformações da representação cinematográfica das cidades ao longo do último século, desde o frenesim das vanguardas nos loucos anos 20 ao slow cinema contemporâneo”. É algo para o qual olham com alguma nostalgia e desânimo, ou sentem que este progresso é, de facto, promissor?
R: De forma alguma encaramos esta “evolução” com desânimo. O cinema sempre representou a realidade vivida ou sonhada de quem o faz: as sinfonias estéticas vanguardistas; o surrealismo ficcional; o expressionismo negro; o neo‑realismo político ou as imagens contemporâneas que se refazem num cinema lento.
Retomando a vossa descrição, é dito que “O progresso, o emprego, a tão ambicionada “qualidade de vida” caracterizavam a cidade idealizada da modernidade, mas para cada sonho há sempre o momento do depois”. Qual é o momento do depois deste festival?
R: O momento do depois do festival é a partir de uma clara compreensão do passado discutir as várias possibilidades de futuro.
Estamos claramente num contexto de pandemia bastante peculiar. De que forma é que isso vos afetou na vossa organização, e que ilações positivas retiram de trabalhar e pensar sob estes constrangimentos?
R: A pandemia e os constrangimentos inerentes à mesma inibiu muita vezes o trabalho presencial o que nos fez utilizar naturalmente as múltiplas opções de teletrabalho que têm a clara vantagem de tornar a distância um fator menos importante. Tomamos a decisão de manter toda a nossa programação respeitando os novos horários e medidas impostas pelo Governo, mas inflexível no seu compromisso com a vontade responsável de levar o cinema ao seu palco primordial, redesenhamos os horários de todas as sessões por forma a garantir que todos os filmes e programas têm, pelo menos, uma passagem no grande ecrã.
Os ajustes feitos concentram as sessões na semana entre 23 e 27 de novembro, alargando-se às tardes e propondo percursos diferenciados no Passos Manuel, Rivoli – Teatro Municipal do Porto e Planetário.

A essência da vossa organização penso que fica bastante vincada com, mais uma vez, a nomenclatura do vosso Fórum – o Fórum do Real. Que realidade procuram atingir com a dinamização deste festival de cinema documental?
R: O Porto/Post/Doc é acima de tudo um festival de cinema, não apenas documental, e tem como principal missão não apenas exibir filmes como também discutir os mesmos. Não apenas a nível cinematográfico e técnico como também a realidade que representam e o cruzamento com outras artes e ciências. Por isso mesmo essa discussão nos pareceu essencial desde a primeira edição.
Nesse prisma, qual é a dinâmica e linha de pensamento no vosso processo de seleção de artistas e filmes?
R: Para além da direção artística, o festival conta com uma equipa de programadores para cada uma das secções do programa que ao longo do ano de forma aberta e numa troca de ideias constante constrói a seleção final de cada um das edições do festival.
De que forma é que parcerias como a vossa com a Câmara Municipal do Porto, o apoio do Ministério da Cultura e do Instituto do Cinema e Audiovisual são verdadeiramente essenciais para construir um projeto desta dimensão?
R: Os apoios da Câmara Municipal do Porto e do ICA – Instituto do Cinema e do Audiovisual são naturalmente fundamentais para o desenvolvimento de um festival de cinema que quer não ser apenas local, como também global. Atraindo filmografias, autores e agentes da indústria globais para a cidade e para Portugal no final de Novembro. Uma massa crítica que faça crescer não apenas o gosto pelo cinema como a industria local e nacional a partir dessa troca de experiências e ideias.
Quais acham que serão os principais destaques desta edição e o que mais enaltecem de diferente comparativamente ao ano passado?
R: Num ano particularmente complicado para a produção nacional, o Porto/Post/Doc reforça os prémios para as competições nacionais e faladas em português e por isso de uma forma direta destacaria a criação do Prémio SPAutores – Cinema Falado. Também pela primeira vez, o Prémio Transmission para o melhor filme da competição.
Para além disso não posso deixar de salientar que o festival estará pela primeira vez em formato online a par da sua edição física o que permitirá:
1. A todos aqueles que devido à redução em 50% da lotação da sala que não conseguirem comprar bilhetes possam na mesma acompanhar a programação;
2. A todos aqueles que acompanharam as seis primeiras edições do festival mas que ainda não se sentem confortáveis em ir às sessões físicas que possam acompanhar a programação de 2020;
3. Uma clara maior abrangência territorial para além do grande Porto;
4. Aos habituais profissionais da indústria estrangeiros que este ano não podem viajar para o Porto que acompanhem as nossas escolhas.
Qualquer dúvida, podem visitar o site oficial do Porto/Post/Doc aqui.
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Excelente entrevista! Parabéns!