Por esta altura, Mr. Bungle é amplamente considerada a melhor banda dos anos 90 e uma tour de force de criatividade pelas estruturas musicais não convencionais, e a capacidade de numa só canção percorrer uma diversidade de géneros musicais. Formada em 1985 pelos ainda adolescentes Mike Patton (Faith No More, Fantômas) na voz, Trevor Dunn no baixo (John Zorn, Electric Masada, Trio-Convulsant) e Trey Spruance na guitarra (Secret Chiefs 3, ex-Faith No More, John Zorn), a banda passou por uma fase de quatro demos durante os seus primeiros quatro anos de existência.
Este período também ficou marcado pela passagem de vários músicos que preencheram a bateria e os metais. Contudo, o line-up ficou estabelecido em 1989 com a entrada do baterista Danny Heifetz e do multi-instrumentalista Bär McKinnon, assim como a permanência do saxofonista Theo Lengyel.
No início dos anos 90, a fama que Mike Patton alcançou com o disco “The Real Thing“, dos Faith No More, permitiu que os Mr. Bungle assinassem contracto com a Warner Bros. Durante essa década, a banda lançou apenas três álbuns, cada um único. Em 1991, a banda estreia-se com “Mr. Bungle”, co-produzido pelo lendário compositor John Zorn, fortemente influenciado pelo funk metal e por Frank Zappa.
Em 1995, “Disco Volante“, o mais experimental dos três, afasta-se das origens centradas no ska e no thrash metal, e explora uma nova dimensão de sonoridades vanguardistas, sendo também o último com a participação de Theo Lengyel. Em 1999, a banda lança “California“, o seu magnum opus. Apesar do claro formato canção e ser o disco mais acessível dos três, os Mr. Bungle estão criativamente imparáveis, indo o mais longe possível no genre hopping e nas infinitas camadas que cada faixa tem. Claramente, um dos melhores álbuns alguma vez criados.
Como resultado de os membros da banda trabalharem noutros projetos e da infame controvérsia de Anthony Kiedis, dos Red Hot Chili Peppers, ter deliberadamente retirado a banda de alguns festivais, os Mr. Bungle entraram numa espécie de hibernação, na qual acabariam por ficar durante quase 20 anos.

Depois de vários rumores, a banda volta ao ativo juntamente com o trio original, e a participação especial do baterista ex-Slayer, Dave Lombardo, e o guitarrista dos Anthrax, Ian Scott, para alguns concertos em fevereiro de 2020, revisitando a primeira demo de 1986, “The Raging Wrath of the Easter Bunny”. Rapidamente após os concertos, o grupo entrou no estúdio e regravou o demo, retirando as secções de ska, e algumas faixas esquecidas.
Tal como a demo, “The Raging Wrath of the Easter Bunny Demo” é thrash metal puro e duro. Faixa após faixa, a intensidade e a velocidade mantêm-se. Ao nível instrumental, está intocável, os solos maníacos de Spruance, a sólida bateria de Lombardo, o preciso e rápido baixo de Dunn, apresentam uma maturidade e talento que é impossível apontar qualquer falha. Nos pontos menos positivos estão a voz de Patton, que notavelmente está envelhecida para cantar este tipo de música; o álbum no seu todo é algo monótono, principalmente devido ao facto de ser muito direto e ter poucas variações; e, finalmente, a secção cantada em espanhol em Hypocrites, que joga contra a seriedade do disco.
Como é óbvio, é espetacular ter esta banda lendária de volta, mas revisitar a primeira música composta enquanto adolescentes, talvez não tenha sido a melhor das ideias. Para os metalheads, é um álbum perfeito, mas longe daquilo que tornou os Mr. Bungle nos génios da esquizofrenia musical.
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