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Porque A Arte Somos Nós

Mais uma vez Guy Ritchie surpreende-nos com uma reinvenção dos contos de Sir Arthur Conan Doyle e traz-nos a sequela de Sherlock Holmes, “Sherlock Holmes: Jogo de Sombras“. Novamente no papel do grande detetive inglês temos Robert Downey Jr. e Jude Law como Watson, com duas interpretações melhoradas tanto a nível profissional como a nível dos próprios personagens. Um Sherlock mais amadurecido e em melhor controlo das suas emoções em relação a Adler (Rachel McAdams), tal como um Watson mais solto e talvez até genuinamente mais interessado nas aventuras de Holmes.

Para além do crescimento e amadurecimento dos personagens, esta película mostra-se mais coesa, na medida em que os cenários são mais vivos e os diálogos mais ricos; já não viajamos apenas pela cidade londrina, mas somos também levados a Paris – um claro melhoramento da película anterior em relação a esta.

A história centra-se no perigosamente misterioso Professor Moriarty (Jared Harris) que parece ser a mente por detrás de vários ataques bombistas que são traduzidos para o público como conflitos europeus e culpa de nacionalistas e anarquistas. Aos olhos de Sherlock, estes ataques são, na verdade, parte do plano de uma mente mais astuta que a de qualquer político. Tudo isto revela-se um mistério muito mais desafiante a nível intelectual, pois Moriarty é talvez a única personagem ao nível de Sherlock, com um pensamento semelhante e jogos mentais dignos de um vilão ao estilo de um James Bond do século XIX; Moriarty, manipulador e inteligente, possui um poder extraordinário sobre todos aqueles que para ele trabalham, controlando-os como marionetas.

Jared Harris (Professor James Moriarty)

Para acrescentar a esta trama, o nosso génio do mal tem Holmes nas mãos, pois explora o seu lado frágil e emocional: Adler e Watson, as únicas razões para o detetive perder o foco e agir mais impulsivamente; o coração de Sherlock está preso nas mãos de Moriarty que fará de tudo para destruir quem o protagonista mais ama. Esta sequela é melhor que o seu antecessor justamente porque existe esta dinâmica emocional intensificada – mais uma vez, Adler e Watson são os pontos fracos que Moriarty utiliza para obter vantagem sobre o seu inimigo, manuseando esta manipulação com cuidado e sempre a seu favor.

O filme acaba, então, por se tornar no maior caso da vida do detetive inglês e desafia-o a um nível quase desconhecido, mostrando-se um verdadeiro emaranhado de pessoas e acontecimentos. Há ainda, no entanto, o medo de abandono de Holmes no caminho da sua aventura, pois sempre que se encontra sozinho refugia-se nas suas experiências transcendentes e nas suas drogas alternativas; Watson prestes a casar reflete a solidão de Sherlock e o seu medo, mais uma vez, de ficar sozinho com a sua própria mente. Por outro lado, explorou-se melhor e investiu-se mais nas cenas que demonstram a perceção e dedução geniais de Sherlock Holmes, prendendo assim o espectador a uma história ainda mais completa.

Perto do final, num confronto de ritmo alarmante, há um jogo com a imagem muito interessante que nos cola ao ecrã pela ânsia dos acontecimentos acelerados. A verdade torna-se cada vez mais clara: Moriarty quer despoletar uma guerra mundial e receber os lucros desse mesmo confronto como um senhor da guerra que joga nas sombras.

Jude Law (Watson) e Robert Downey Jr. (Sherlock Holmes)

Mais parecidos do que nunca, os dois inimigos dir-se-iam mesmo irmãos da mente, com pensamentos extremamente semelhantes que esgrimam um contra o outro na maior e única luta em que ambos se enquadram melhor: os jogos mentais. Num momento pensamos que Sherlock está doido e no outro ele surpreende-nos com os seus planos incrivelmente bem coordenados, sem pontas soltas. Quando pensamos que o nosso mestre está a perder, é justamente nesses momentos que ele nos mostra a sua astúcia e superioridade perante qualquer inimigo. A verdadeira essência de Holmes vem à superfície nos momentos de maior crise e nos últimos minutos de aflição.

Um final que nos poderia deixar desconcertados não fosse o nosso protagonista um mestre do disfarce e das artimanhas. Somos testemunhas de um filme superior a nível visual e de conteúdo: mais consistente, coeso e deveras empolgante. Mais uma vez um final em aberto que só nos deixa a pensar: que truques terá Sherlock Holmes na manga para as suas próximas aventuras?

Lorena Moreira

Rating: 2.5 out of 4.

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