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Porque A Arte Somos Nós

Na segunda metade dos anos 70, em plena explosão da new wave, nasceu em Inglaterra uma das bandas mais icónicas da historia da música britânica, os The Police. Mas, comecemos pela formação da banda. Por volta de 1976, em Newcastle, Stewart Copeland (baterista) conhece Gordon Sumner, mais conhecido pelo nickname de Sting (baixista e vocalista), num concerto que este dava com a sua banda jazz-rock de nome Last Exit. Tendo ficado impressionado com as capacidades de Sting, trocaram contactos na perspectiva de se virem a encontrar para partilhar o que os unia, a música.

Tal veio a acontecer no início do ano seguinte após o fim da banda de que Sting fazia parte. Já em Londres, Copeland, que também tinha terminado o projecto de que fazia parte, sugere a Sting a formação de uma nova banda e convidam Henry Padovani (guitarrista) para a integrar. Após alguns concertos como banda de apoio e a integração de um quarto membro na banda, Andy Summers (guitarrista), tudo parecia ainda muito indefinido. É então que, em Agosto desse ano, 1977, decidem que Padovani deve abandonar o projecto e iniciam a sua existência como trio com um concerto em Birmingham. Estava dado o tiro de partida para a banda que todos viríamos a conhecer como The Police.

Stewart Copeland, Henry Padovani e Sting (da esquerda para a direita)

Este trio de rapazes loiros tinha uma grande vontade de fazer boa música e para isso contava com o espírito criativo de Andy Summers e Sting. Para além do mais, Sting tinha um timbre de voz que impressionava a grande maioria dos apreciadores de música e uma presença bastante marcante pela sua fisionomia e maneira de estar. Ainda assim, não era fácil definir um estilo marcado no som dos Police. A sua amplitude criativa ia desde o reggae, reggae-rock passando por algum post-punk e outros tão variados como a bossa nova, dando aso à paleta de sons tão característicos do movimento new wave que se vivia de forma intensa à época.

Relativamente aos trabalhos de estúdio editados pela banda, é fácil perceber que em todos eles ficou pelo menos um tema para a história, que qualquer um de nós recorda com prazer. Outra curiosidade são os nomes dados aos álbuns, pura imaginação!

Em 1978 editam o seu primeiro trabalho em “tamanho grande”, pois já tinham feito edição de alguns temas em formato single que, curiosamente, não tiveram grande sucesso. De nome “Outlandos d’Amour” (uma mistura de termos ingleses, outlaws e commandos e franceses D’Amour, Of Love em inglês, para representar o titulo original “Outlaws of Love”) continha alguns temas que se eternizaram. De uma simplicidade e pureza de concepção em termos rítmicos e líricos, ficou para a história Roxanne, So Lonely, Can’t Stand Losing You ou Next to You.

Não posso esquecer a forma como a plateia completa do Marés Vivas cantou Roxanne em uníssono no concerto de Sting há três anos. Arrepiante. No ano seguinte, 1979, editam mais um álbum que viria a fazer parte dos 500 melhores álbuns de sempre, segundo a Rolling Stone, tal como o anterior, “Reggatta de Blanc” (pseudo tradução francesa de white reggae). Daqui surgiram dois temas que iriam tomar conta do primeiro lugar das tabelas na época, e que ficaram gravados na pedra para todo o sempre, Message in a Bottle e Walking on The Moon. O que dizer destes dois temas? Nada, basta ouvi-los. Pura inspiração!

Andy Summers, Sting e Stewart Copeland (da esquerda para direita)

Para além destes últimos temas, destacam-se ainda Bring on The Night e The Bed’s Too Big Without You e Reggatta de Blanc, dos poucos instrumentais da banda. Já em 1980, para não perderem tempo, editam outro trabalho que iria estar nos tops e que traria mais galardões à banda, “Zenyatta Mondatta” (junção de zen com parte do nome de Jomo Kenyatta, primeiro-ministro queniano nos anos 60, e de “Le Monde” com Reggatta, do álbum anterior), que seria o único trabalho dos Police que não viria a estar entre os melhores 500 de sempre.

Destaca-se, obviamente, mais dois super êxitos da banda, Don’t Stand So Close to Me e De Do Do Do, De Da Da Da. Mais uma vez se torna difícil descrever o quão grande foi o sucesso de mais este trabalho. A linha de actuação já estava bem definida e qualquer obra realizada por este trio era devorada pelo público. Mais uma vez estamos a falar de temas que ainda hoje são ouvidos à escala global. O que dizer mais?

Continuando no ritmo que traziam, em 1981 editam mais um trabalho, “Ghost in the Machine” (primeiro trabalho com título totalmente em inglês e inspirado na obra do pensador e jornalista Arthur Koestler, “The Ghost in the Machine“) que viria também a estar entre os 500 melhores álbuns de sempre, segundo a Rolling Stone. Neste trabalho a banda encontra inspiração variada na construção dos seus novos temas. Every Little Sing She Does is Magic é um bom exemplo com sons de influência caribenha. A este mega-sucesso juntou-se outro tema incontornável, Spirits in The Material World, para além de Invisible Sun e Demolition Man.

Os Police continuavam a trazer-nos ritmo em temas que, apesar de inovadores, não fogem da orientação definida pela banda. Estavam, sem qualquer sombra de dúvida, no auge da sua existência, e os sucessivos tops e prémios eram um reflexo disso mesmo.

Finalmente, em 1983 editam o seu último trabalho de estúdio, “Synchronicity” (inspirado na obra de Arthur Koestler, “The Roots of Coincidence” em que este menciona a teoria da Sincronicidade de Carl Jung) e mais uma vez atingem os tops e o desígnio de também este álbum fazer parte dos 500 melhores. Every Breath You Take veio a ser o maior sucesso deste trabalho, no entanto, não é de esquecer outros temas fortes como King of Pain, Wrapped Around Your Finger ou Synchronicity II. A linha de qualidade é a mesma e a banda encerra a edição de trabalho original tal como começou, sem defraudar os fãs. Bons ritmos, boa sonoridade. Música para não esquecer.

The Police em acção
A banda ao vivo no Rockpalast, 1980

Após estes cinco trabalhos, a banda ainda se reuniu em 1986 para gravar um novo trabalho, no entanto, na sequência de uma fractura na coluna após uma queda de cavalo, Stewart Copeland viu-se impossibilitado de participar e a banda decide parar para que cada um dos membros pudesse dar continuidade às suas carreiras a solo. O grupo volta a reunir-se em 2007/2008 para uma muito bem sucedida (financeira e não só) tour de reunião, e pelo meio foram sendo editados alguns trabalhos ao vivo e “Greatest Hits”.

Em suma, estamos perante uma das maiores bandas de sempre da história da música. Não só pelo legado que nos deixaram, que é perfeitamente tangível ainda nos dias de hoje, como pelo reconhecimento de que foram alvo ao longo da sua carreira e que é expresso pela presença do seu trabalho entre as listas dos melhores de sempre, bem como os Grammys que ganharam (6), a entrada para o Rock and Roll Hall of Fame em 2003 e muitos outros reconhecimentos que não caberiam nestas linhas.

Não posso deixar de destacar, e peço desde já desculpa por o fazer, não me levem a mal, o papel absolutamente relevante de Sting na existência dos Police. É um músico e compositor de excelência que vai deixar (já deixou) uma marca indelével na memória futura da música. Como ele existem (muito) poucos. Como os The Police, também, existem poucos.

Bons sons. Protejam-se.

Jorge Gameiro

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