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Porque A Arte Somos Nós

Depois do cineasta James Whale ter deixado uma forte impressão nos estúdios da Universal com o filme “Frankenstein, o homem que criou o monstro” (1931), rapidamente voltou à saga de terror que começou com “Drácula” (1931) de Tod Browning. Whale realizou três filmes em 1933, um deles foi “O Homem Invisível“, uma história adaptada de um livro do escritor H.G. Wells, publicado em 1897 com o mesmo título. A narrativa diz respeito a um assunto recorrente na época: cientistas ambiciosos que através das suas invenções bem-intencionadas criam forças incompreensíveis e malignas.

Jack Griffin (Claude Rains) é um cientista inglês que no decurso das suas experiências com uma droga chamada monocaina tornou-se completamente invisível. Coberto em ligaduras e sempre com uns óculos escuros, o cientista vai para uma pequena aldeia para arrendar um quarto e continuar sossegadamente as suas pesquisas. Todo o mistério envolto do cientista desperta a curiosidade dos cidadãos. Enquanto Griffin progride as experiências, a droga começa a afetar-lhe o comportamento. Primeiro, começa a usar a sua invisibilidade para assustar, mas depois, a loucura voltasse para o assassinato.

Não é de hoje que os efeitos especiais vendem bilhetes. Desde que os primeiros produtores de espetáculos descobriram, nos finais do século XIX, que podiam retratar nos filmes coisas impossíveis de acontecer na vida real, este tem sido o grande chamariz para as salas de cinema. Neste âmbito, os efeitos especiais de “O Homem Invisível” estão maravilhosamente bem conseguidos. É impressionante como em 1933 conseguiram apresentar no grande ecrã sequências como um homem invisível a andar de bicicleta ou a fumar um cigarro. Tudo é demonstrado de forma simples, mas com tremenda habilidade e eficácia. Às vezes até aparece apenas com uma peça de roupa, conseguindo a ilusão de que uma camisa está a flutuar ou um par de calças está a caminhar sozinho.

A conferir personalidade ao esboço invisível está a tremenda performance Rains (pela primeira vez a trabalhar em Hollywood). Tem a difícil tarefa de construir uma personagem sem rosto (há apenas uma imagem da sua cara em todo o filme), fazendo proveito da sua entoação implacável e gestos teatrais (quando está coberto com roupa). Não há, contudo, outras interpretações dignas de destaque. O elenco é composto por atores famosos como Henry TraversGloria StuartUna O’Connor (que consegue ser irritante em algumas cenas), cujas interpretações são meramente competentes.

O argumentista R.C. Sherriff, à semelhança dos filmes de monstros da época, envolve a narrativa nuns coesos 71 minutos, com a peculiaridade de atribuir um humor negro delicioso ao homem invisível. Apesar de ter um bom ritmo e uma história cativante, o facto de não existir nenhuma personagem com personalidade suficiente além do antagonista, cria algum atrito na tensão dramática que pretende atingir.

“O Homem Invisível” pode não ter a poesia gótica dos monstros que lhe antecederam, mas a voz atormentada de Griffin ao declarar “Minha querida… Eu falhei. Meti-me em coisas que o Homem deve deixar em paz“, carrega um peso particular no universo do terror.

Bernardo Freire

Rating: 3 out of 4.

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