O grupo que se segue são os Animizmo, uma banda instrumental de prog/math rock curitibana. Este último estilo tem como características as batidas rítmicas atípicas, contraponto, ou riffs prolongados e dissonantes. Uma mistura entre o estilo progressivo e indie. Para dar o exemplo, imaginemos a junção entre King Crimson e compositores de música minimalista, como o americano Steve Reich. Tendo já passado por projectos como os Colorphonic (indie rock) e os Slander (metal), a banda composta por Edgar Webster, Rodrigo Wisnievski, Bruno Lopes e Luciano G. L. Costa, decidiu desenvolver algo que reflectisse a sua história artística, mas que também fosse exigente a nível criativo.
Assim nasceram os Animizmo (termo vindo de “animismo”, que significa “dar alma a objetos/seres inanimados”). Neste seu primeiro álbum, “Vida Curva”, é-nos apresentado algumas essências do DNA do grupo: das ambientações atmosféricas aos solos fusion, dos riffs pesados às harmonias delicadas. Este último, foi inclusivamente considerado um dos melhores álbuns curitibanos de 2019 pelo site da rádio Banda B.
O álbum começa com o single Vida Curva. Aqui podemos desde logo captar a essência harmoniosa da banda, pois ao longo de cinco minutos somos presenteados com riffs que nos remetem para um estilo mais indie: sons que nos transportam para um belo fim-de-tarde de verão. Contudo, a música sobe de tom na sua parte mais final, revelando mais garra e deixando a guitarra eléctrica “falar mais alto”. Avançamos para Moscou: mais pesada que a anterior, os seus compassos marcam um ritmo mais metal, fazendo-nos por momentos recordar bandas como os Metallica.
Antônia assemelha-se um bocado ao single Vida Curva, pois ambas são músicas que mostram as diversas narrativas que uma mesma história pode ter. A certa altura da faixa conseguimos sentir uma espécie de inspiração de grupos como os Led Zeppelin ou os Pink Floyd. Tudo graças, novamente, a um solo de guitarra sentido e provocador. O que se segue obriga-nos a aumentar o volume: Soro. Esta música também está disponível no canal de Youtube da banda. Com batidas irregulares, mudanças de ritmo e velocidade, Soro faz-nos querer levantar da cadeira e começar a dançar – como que um necessário libertar de energias. Chegamos a Porta Entreaberta, mais um excelente exemplo do lado mais agressivo da banda. Por esta altura, perguntamos o porquê de se considerarem indie, contudo, uma das forças dos Animizmo é precisamente isso, conseguirem num trabalho só ter essas duas facetas. Esta faixa é como uma espécie de jam onde quatro músicos chegam ao fim e pensam “Isto realmente correu muito bem!”. O público agradece.
Com umas suaves vozes a dar o pontapé de saída, Wabi-sabi volta a um registo mais “calmo”. Sendo que o progressivo nunca abandona a banda, esta é um crescendo onde a guitarra eléctrica volta a ser o destaque. Esta, por momentos, parece ir buscar certas semelhanças ao estilo stoner rock. Seguimos para a faixa mais rock and roll do álbum, Hormônio K. Um dos pontos altos da obra, de novo parece que conseguimos ouvir Led Zeppelin de fundo. Riffs imponentes durante cerca de três minutos e meio. Não perdendo o fôlego, a banda acrescenta ainda uma curta música chamada 39, que também se mantém fiel ao estilo rock e acaba por funcionar como uma espécie se ressaca da sua antecessora. Como que o fechar de uma “porta entreaberta”. Entramos assim na fase final do álbum com Descuido. Fugindo um pouco ao progressivo, esta faixa dá-nos a sensação de que é um corpo incompleto, mas ao mesmo tempo sem nada em falta. Incompleto porque conseguimos imaginar o acrescentar de uma letra para o que seria a escolha mais “pop” deste trabalho. Teria sido, não obstante a escolha de Vida Curva, um excelente single. Terminamos com Oceanos. Uma linha de baixo negra e mística guia-nos sobre uma estrada que logo se abre com riffs fortes, mas ao mesmo tempo melódicos. Com certos toques de blues, esta faixa tem apenas dois minutos e encerra um trabalho ambicioso.
“Vida Curva” tem melodia, ritmo e energia. São perceptíveis as influências passadas da banda, mas é essa mistura de experiências que fazem deste um projecto especial, e com potencial para nos apresentar a muitas novas músicas.
Membros dos Animizmo: Edgar Webster; Rodrigo Wisnievski; Bruno Lopes; Luciano G. L. Costa
Spotify: https://open.spotify.com/artist/3h0bSUVF1lM9P4RPrdKpTu
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Download do Álbum: https://animizmo.bandcamp.com/releases