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“‘Grand Theft Auto’ (GTA) com cowboys“. Esta é uma frase frequentemente usada para descrever “Red Dead Redemption”, jogo da autoria dos aclamados estúdios da Rockstar Games. Este videojogo deu-se a conhecer ao mundo em 2010, pouco depois de outros êxitos da empresa, como “Grand Theft Auto IV” (2008) ou “Bully” (2006). Dada a natureza destes últimos (especialmente dos jogos da série “GTA”), seria algo previsível que “Red Dead” continuasse a seguir a filosofia da Rockstar, apresentando aventuras na terceira pessoa e seguindo moldes de mundo aberto. E, numa perspetiva extremamente simplista, é uma afirmação que não está longe da verdade. Jogadores familiarizados com “GTA” irão notar certamente semelhanças visuais e mecânicas, mas adaptadas ao género western.

O jogo inicia-se em 1911, quando o antigo fora da lei John Marston acaba de chegar ao porto de Blackwater, no estado de New Austin, escoltado por dois agentes do Bureau. A missão de John é capturar os ex-parceiros do seu gangue sob a promessa de poder regressar ileso para a sua família. No capítulo introdutório, John tenta primeiramente localizar e persuadir Bill Williamson, líder de um novo gangue, a entregar-se às autoridades, uma jornada que não é bem-sucedida e que deixa John baleado e às portas da morte. Depois de ser salvo por Bonnie MacFarlane, dona de uma das maiores quintas do estado, John apercebe-se que a sua missão será mais espinhosa do que o próprio pensava.

John Marston: protagonista de “Red Dead Redemption”

A partir daí, a história de “Red Dead Redemption” avança sob a forma de missões que o jogador pode ‘acionar’ quando quiser, podendo nos interlúdios explorar o mundo a seu belo prazer. A narrativa é, durante toda a sua duração, extremamente rica e com um conjunto memorável de personagens, tanto os ex-parceiros de John Marston, que o próprio vai localizando, como novas relações que John vai construindo, tanto em New Austin, como do outro lado do rio, já em território mexicano. O protagonista é uma personagem psicologicamente densa e com conflitos interiores variados, embora sempre com o seu objetivo bem definido, o de voltar para junto da mulher Abigail e do filho Jack.

Para o grande apelo da narrativa do jogo, em muito contribui o setting do faroeste. O ano em que o jogo se inicia (1911) marca um período em que a transformação do ‘Velho Oeste’ em ‘Novo Oeste’ já está demarcada e é notória, sobretudo para personagens como John Marston, habituadas ao mundo dos fora da lei. Os principais meios de transporte são, na falta de veículos motorizados, os cavalos e as carroças, tornando a navegação pelo imenso mapa do jogo um processo mais vagaroso, mas não por isso menos agradável.

Primeiro, porque, no capítulo técnico, gráficos e animações estão surpreendentemente realistas; segundo, porque dá mais espaço ao jogador para apreciar o gigantesco mundo, tão imenso quanto detalhado, que foi cuidadosamente criado pela Rockstar; terceiro, porque “Red Dead” apresenta diversos momentos dinâmicos e surpresas que recompensam os jogadores por vaguear pelo mapa. A sensação deixada é a de que o mundo se encontra vivo, em vez de, como é frequente, apenas cheio de tarefas mundanas para passar o tempo.

O mundo aberto de “Red Dead Redemption” prima pelo realismo gráfico

Se se evitou falar até ao momento nas mecânicas de tiro (indispensáveis em qualquer western), é precisamente por serem dos fatores menos esplêndidos, ao contrário dos gráficos, banda sonora e design do jogo, no geral. Em vários momentos pertencentes às missões, o jogador terá que controlar John em tiroteios frenéticos, sejam dentro do saloon da cidade, no meio de vales ou até em perseguições a cavalo.

É neste aspeto que “Red Dead” mais se assemelha a “GTA” usando um sistema de shoot and cover tradicional. Contudo, a mecânica Dead Eye permite a John Marston desacelerar o tempo e marcar automaticamente os alvos, criando um efeito espetacular que fará o jogador sentir-se um autêntico pistoleiro do Velho Oeste. Não sendo um aspeto do jogo que sobressai por si próprio, complementa bem outros sistemas, como os duelos para os quais o jogador pode ser desafiado por inimigos em saloons, missões de caçador de recompensas, ou a possibilidade de caçar diversas espécies de animais.

Uma das grandes temáticas da história de “Red Dead Redemption” está relacionada com a moralidade. Este motivo narrativo estende-se brilhantemente a outro importantíssimo aspeto do jogo, o sistema de Honra. Caso o jogador efetue ações consideradas moralmente corretas, como capturar foras da lei ou salvar estranhos de serem capturados, o nível de honra de John irá aumentar. Inversamente, ações negativas, como assassinar civis, irão prejudicar o grau honorário do protagonista. Diferentes níveis de honra farão com que os NPCs (non playable characters) cumprimentem John Marston ou até lhe façam descontos nas lojas, enquanto que um baixo nível de honra fará os NPCs comportarem-se de modo hostil, colocando um peso na personalidade que o jogador escolhe para John.

A mecânica de Dead Eye permite aos jogadores marcar alvos em câmara lenta e disparar as balas em tempo real

Já com mais de uma década de existência, “Red Dead Redemption” é considerado quase unanimemente como um dos melhores jogos da sua geração. Mas, mais de 10 anos depois, será uma afirmação redutora, sobretudo vinda de um jogo que continua a ter uma das histórias mais imperdíveis e profundas do meio dos videojogos, com um aspeto de imersividade que desde então poucos têm conseguido recapturar. Mesmo considerando os videojogos como artefactos que ficam rapidamente datados, “Red Dead Redemption” é uma obra que nunca perde o seu impacto, conseguindo trazer para o meio interativo um dos anti-heróis mais carismáticos de que há memória.

Disponível em: PS3, XBox 360

Luís Ferreira

Rating: 4 out of 4.

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