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Porque A Arte Somos Nós

Os tempos modernos têm sido de destaque para o cinema, com filmes a evidenciarem-se pela sua capacidade de ultrapassar alguns limites e barreiras pré-existentes. O thriller, ou em português, filme de suspense, tem sido um dos géneros com maior popularidade, até pelos distintos significados que pode ter. O suspense pode assumir diversas facetas, podendo por vezes conter cenas assustadoras, ou violentas, enquanto que por outro lado apresenta conflitos emocionais ou psicológicos entre as personagens.

As obras de referência deste género captam componentes de diversas áreas como a ficção científica, fantasia, comédia ou até histórico, o que permite a criação de subgéneros ímpares. Houve uma grande quantidade de bons filmes de suspense produzidos na última década, com os mais memoráveis a deixarem-nos com várias questões e emoções depois do seu término. Esse excedente fez com que alguns filmes recentes não tenham sido vistos, ou então desprezados. Nesse sentido, foi desenvolvida uma lista de 10 filmes que encaixam na descrição acima, tendo esta sido criada pelo site Taste Of Cinema – uma plataforma especialista na criação de listas em prol da sétima arte.

10.º “O Homem do Volante” (“Wheelman”), Jeremy Rush (2017)

Um thriller distinto, dentro do estilo das perseguições, já que ao longo da narrativa, protagonizada por Frank Grillo, é-nos mostrado apenas o interior da viatura. Apesar de ter sido algo já utilizado no filme “Locke” (2013), com Tom Hardy no papel principal, este tinha uma componente mais dramática, enquanto que aqui temos uma abordagem diferente, numa obra repleta de acção, com um ator de moral dúbia, que está a ter uma noite para esquecer. O condutor em questão, começa a suspeitar que faz apenas parte de algo mais complexo, quando os seus cúmplices, num roubo a um banco, o traem. As interacções de Grillo (Wheelman) com a sua filha, ao início são algo ridículas, contudo o seu laço familiar torna-se cada vez mais evidente quando a sua família está em perigo. Esta é uma performance admirável do ator, que só é possível graças à componente da intimidade presente no filme, mas onde disposição da obra lhe permite exibir uma grande variedade de emoções.

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9.º “Ready or Not – O Ritual” (“Ready or Not”), Matt Bettinelli-Olpin, Tyler Gillett (2019)

Uma sátira convincente de riqueza e tradição, a premissa deste filme consiste na cerimónia de introdução numa família rica que se torna, posteriormente, numa situação de morte. Como personagem principal temos Grace (Samara Weaving), uma rapariga feliz por fazer parte da família abastada do seu marido, Alex Le Domas (Mark O’Brien). No entanto, para eles, a forma de integrarem Grace na família envolvia prenderem-na na mansão e obrigarem-na a sobreviver até ao amanhecer, enquanto tentavam encontrá-la para a matar. Um desafio de morte. Esta tradição macabra adiciona uma componente por um lado assustadora, por outro engraçada, sendo que a maneira como esta família passa de infeliz a mortífera resulta de acontecimentos estranhos, onde até o próprio caçador é inexperiente. Apesar desta componente satírica lhe atribuir uma certa personalidade, a obra não deixa de ser arrebatadora ao ponto de no futuro poder ser considerada um clássico de culto, no que aos thrillers diz respeito.

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8.º “Man Down – A Guerra” (“Man Down”), Dito Montiel (2015)

O destaque deste filme prende-se desde logo pela presença de Shia Labeouf (Gabriel Drummer), mas também de Gary Oldman (Counselor Peyton) e Kate Mara (Natalie Drummer). No que toca à narrativa, esta segue de forma distinta. A temática do stress pós-traumático e do serviço militar, mostra-nos a personagem de Labeouf, Gabriel Drummer, em duas linhas temporais distintas. Uma é relativa ao seu treino e à sua primeira viagem como membro da marinha americana, já a outra ocorre após o seu tempo de serviço ter terminado, num futuro pós-apocalíptico. Quando chegamos ao momento em que as duas histórias se cruzam, a narrativa permite-nos tirar conclusões interessantes sobre os efeitos do trauma, mas também chegar à conclusão que somos nós próprios os nossos heróis. Destaque para o elevado nível de realismo dos flashbacks, que nos mostram uma falta de paralelismo na forma como Gabriel Drummer achava que iria ser o seu tempo de serviço, tendo em conta a realidade que depois teve de enfrentar. Os dois atores têm uma grande química entre si e até em situações em que o seu relacionamento se deteriora, estes conseguem sugerir uma história de amizade, apesar desta nunca ser verdadeiramente explícita.

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7.º “Triplo 9” (“Triple 9”), John Hillcoat (2016)

Apesar de não ter sido muito bem-sucedido nas bilheteiras, esta obra envolve um invulgarmente corajoso e complexo exame à corrupção dentro da força policial, além de ter um elenco muito interessante, com destaque para Woody Harrelson e Casey Affleck, argumentos suficientes para resultar em algo mais ambicioso. “Triplo 9” deve o seu nome ao código 999 (que corresponde a “polícia abatido”) e conta-nos a história do agente Chris Allen (Casey Affleck), que questiona as motivações do seu companheiro, Marcus Belmont (Anthony Mackie), após um assalto mal-sucedido. Neste estava envolvida a máfia russa em colaboração com alguns polícias corruptos, liderados por Belmont. Allen recorre ao seu tio, o excêntrico sargento Jeffrey (Woody Harrelson), que apesar de ter métodos de investigação muito distintos dos do seu sobrinho, está empenhado em remover os elementos corruptos da polícia. Outros atores a destacar neste filme são Kate Winslet (Irina Vlaslov), enquanto líder da máfia russa, e Aaron Paul (Gabe Welch) como elemento envolvente no assalto. O que coloca este filme acima de outras obras do género é o facto das cenas de acção, apesar de bastante violentas, não deixarem de ter sido devidamente investigadas, tentando demonstrar de forma precisa os procedimentos policiais.

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6.º “A Descoberta” (“The Discovery”) Charlie McDowell (2017)

Este projecto envolve a temática das viagens no tempo, sendo este um tema enigmático e bastante difícil de retratar convenientemente no grande ecrã. As obras deste género que se destacam são as que baseiam as acções em prol das suas legítimas motivações. “A Descoberta” explora um mundo onde a evidência científica de uma existência pós-vida, descoberta pelo cientista Thomas Harbor (Robert Redford), leva a um incremento da taxa de suicídios. A narrativa gira à volta do relacionamento de Will (Jason Segel), filho de Harbor, com Isla (Rooney Mara) que revela o seu instinto suicida durante a sua estadia na mansão da família, onde é desvendado o novo projecto. Will e Isla vivem vidas incompletas e procuram respostas na vida após a morte, voltando ao passado de forma a refazerem eventos traumáticos das suas vidas. Segal revela-se um ator dramático talentoso no papel de filho de um génio, enquanto Mara inicialmente distante e esquecida, vê a sua importância acrescida quando se desvenda o passado da sua personagem.

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5.º “22 de Julho” (“22 July”), Paul Greengrass (2018)

À semelhança de “Captain Phillips” (2013) e “United 93” (2006), Paul Greengrass demonstra com esta obra ser perito na reprodução de tragédias reais. Nesse sentido,”22 de Julho” descreve a verdadeira história do pior ataque terrorista de sempre na Noruega, no qual um extremista de direita assassinou 77 jovens que frequentavam uma ‘universidade de verão’, em 2011. Os pormenores extremos do ataque, assim como o caos e a angústia que se seguiram à tragédia, são representados de forma convincente. Nesta perturbante narrativa, Greengrass foca os ataques e dá ênfase ao processo de recuperação e cura psicológica, através do testemunho de estudantes, forças de segurança e do governo, na tentativa de ultrapassar o luto e prevenir situações futuras. Geir Lippestad (Jon Oigarden) destaca-se no papel de advogado defensor do terrorista, questionando o funcionamento do sistema jurídico. Trata-se de um filme relevante, que embora bastante traumatizante, não levou Greengrass a exagerar no melodrama ou no sentimentalismo.

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4.º “The Guest” Adam Wingard (2014)

O realizador norte-americano desde cedo mostrou um grande potencial e “You’re Next” (2011) tornou-se mesmo um filme de culto, enquanto que a “The Guest” não foi dado o devido relevo. Neste cativante thriller, David (Dan Stevens) interpreta o papel de um soldado que visita a família de um colega falecido, e introduz-se nas suas vidas. Se de início a autenticidade emocional e os maneirismos do soldado são cativantes, logo se torna evidente que o seu carácter perturbado é conduzido até a um misterioso suspense, que é pontuado por sugestões visuais inspiradas nos filmes de acção e terror da década de 80. Através da performance de Stevens, David torna-se simultaneamente carismático e arrepiante, sendo que o argumento deixa a interpretação do passado de David à nossa mercê. Torna-se intrigante o seu envolvimento num enigmático programa militar, que o leva a perseguir quem possa por em causa a sua aparente normalidade, no entanto, é o seu relacionamento doentio com a família Stevenson, particularmente com a filha Anna (Maika Monroe), que acaba por ser a primeira a perceber as imperfeições do soldado.

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3.º “O Segredo dos Kennedy” (“Chappaquiddick”), John Curran (2017)

“Chappaquiddick” revisita um dos momentos mais controversos da história moderna da política americana, no qual o candidato presidencial Ted Kennedy (Jason Clarke), vê-se envolvido num acidente automóvel que resulta na morte de Mary Jo Kopechne (Kate Mara), um elemento do seu staff. Ted, aspirante à presidência, e sob forte pressão do seu pai e dos media, tenta desesperadamente assegurar o seu futuro político. A cada novo passo da investigação, a culpa e a ansiedade por ele sentidas, são realçadas pela brilhante performance de Jason Clarke. Este demonstra de forma talentosa, como um carismático Kennedy pode esconder segredos tenebrosos, lutando pela aprovação do seu pai à medida que a sua personalidade se vai deteriorando, tornando-se num fascinante caso de estudo. Na obra são realçados aspectos como a importância do poder e do status da família Kennedy, em oposição, à aceitação da responsabilidade pessoal, e o respectivo conflito com a protecção do seu legado familiar. A representação do que se seguiu a este acontecimento, e a resposta dada pelas forças políticas, transformam o filme num intrigante drama histórico que espelha a complexidade deste dia fatídico.

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2.º “Sete Estranhos no El Royale” (“Bad Times at the El Royale”), Drew Goddard (2018)

No seguimento do sucesso “Cabin in The Woods” (2011), Drew Goddard fabricou outra obra sinistra, com “Bad Times at the El Royale” a misturar filmes com estilo dos anos 60 a um thriller neo-noir, no qual sete estranhos se encontram num misterioso hotel para uma noite que se revela surpreendente. A natureza descontraída do realizador permite a cada personagem introduzir novos elementos à história, de tal forma que o filme aparenta ser um conjunto de diferentes narrativas que se relacionam com o ambiente político e social de 1969. Por vezes, cada enredo mostra uma diferente perspectiva, ou um determinado acontecido, não permitindo ao público afeiçoar-se a nenhuma personagem específica, de forma a história não se tornar monótona. Jeff Bridges (Father Daniel Flynn) apresenta uma das suas melhores recentes atuações, no papel de um ladrão disfarçado de padre que é surpreendentemente sincero nas suas motivações. O seu monólogo final apenas poderia advir da representação de um grande actor. Também Chris Hemsworth (Billy Lee) tem aqui uma das suas melhores performances, sendo este último um psicopata líder de um culto cuja personagem, semi-assassina, semi-surfista, permite uma entrega cativante. Claustrofóbico e surpreendente, os seus 141 minutos nunca se tornam fastidiosos.

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1.º “Ruína Azul” (“Blue Ruin”), Jeremy Saulnier (2013)

Um thriller arrebatador que desafia todas as normas de Hollywood de forma a contar a brutal história de vingança, na qual, o sem abrigo Dwight Evans (Macon Blair) procura vingar-se do homem que assassinou os seus pais há 20 anos atrás. O que começa como uma simples agressão, transforma-se numa guerra entre duas famílias para sempre ligadas por este acto de violência. O filme destaca-se de outros suspenses pela sua falta de contenção. Cada acção impiedosa leva a um passo seguinte neste ciclo de violência. Dwight não é um assassino profissional, e muita da tensão existente advém do facto de este ser forçado a usar as técnicas de sobrevivência que adquiriu dos seus tempos enquanto sem-abrigo, para destruir a família adversária. No entanto, embora não seja intrinsecamente vingativo, as constantes memórias da morte de seus pais desbloqueiam em Dwight uma personalidade mais implacável. Apesar do seu baixo orçamento (cerca de 420 mil dólares), as suas cenas de acção nunca parecem “fabricadas”. Blair traz uma componente física ao papel que serve para desviar da natureza mais desafortunada da personagem. “Blue Ruin” é um filme de referência para o cinema independente, demonstrando que as pedras basilares para um grande thriller são uma grande realização e um argumento forte e apelativo.

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Pedro Maia

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