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“Barbie” (2023) é uma comédia metafórica que explora a identidade e o propósito da icónica boneca, Barbie, através de uma viagem à realidade. Realizado e co-escrito por Greta Gerwig e Noah Baumbach, o filme é uma mistura de fantasia, humor e crítica social, que celebra a diversidade e a auto-aceitação. A história segue Barbie (Margot Robbie), uma boneca que se vê obrigada a aventurar-se fora de Barbieland por não ser perfeita o suficiente, e que se vê numa jornada para encontrar a sua própria identidade no mundo real.

A longa-metragem é uma comédia visualmente deslumbrante, cujo humor é inteligentemente complementado por uma narrativa subversiva. Além disso, a realização de Gerwig merece elogios, pois consegue criar um equilíbrio entre a sátira e a emoção. No que diz respeito às interpretações, Margot Robbie brilha pela sua versatilidade e carisma, enquanto Ryan Gosling (Ken) se destaca pela sua veia cómica e pela sua química com a protagonista.

“Barbie” deve ser, também, reconhecido pela sua qualidade técnica, especialmente no design de produção, no figurino e na fotografia. O filme recria diversas versões da Barbie ao longo da sua história, desde a primeira lançada em 1959 até às mais recentes, com diferentes estilos, cores e acessórios. Adicionalmente, faz referências a diversos filmes clássicos e contemporâneos, como “2001: Odisseia no Espaço” (1968), “The Truman Show – A Vida em Directo” (1998), “Pretty Woman: Um Sonho de Mulher” (1990) e “O Diabo Veste Prada” (2006). Neste sentido, “Barbie” é um “banquete visual”, que impressiona pela riqueza dos seus detalhes e pela sua criatividade.

Ken (Ryan Gosling) e Barbie (Margot Robbie)

No entanto, a história não se limita a ser uma homenagem à Barbie ou uma comédia convencional: “Barbie” aborda temas relevantes e atuais, como o feminismo, diversidade, autoestima, consumismo e a própria indústria cultural. Neste prisma, o filme questiona os padrões irreais de beleza e perfeição impostos pela sociedade, especialmente às mulheres, e mostra como estes podem gerar insegurança, insatisfação e, até, alienação. Ademais, mostra como a Barbie evoluiu ao longo do tempo, acompanhando as mudanças sociais e culturais, e como se tornou um ícone feminista, que inspira mulheres a realizarem os seus sonhos.

Um dos aspetos mais interessantes do seu argumento é, a forma como trabalha o tema da exploração de género: Barbie é uma boneca que tem sido tradicionalmente associada à feminilidade e à beleza; no entanto, esta obra desafia esses estereótipos, mostrando Barbie como uma personagem forte e independente, que não se encaixa em nenhum rótulo de género. Noutro sentido, a história também aborda questões de identidade e pertença: Barbie é uma personagem que está sempre à procura do seu lugar no mundo, na medida em que nunca se sente como se pertencesse a lugar algum, seja em Barbieland ou no mundo real. Contudo, ao longo do filme, aprende a aceitar-se a si mesma e a encontrar o seu próprio caminho.

O próprio personagem Ken é muito rico e preponderante para a globalidade da história. Ele, apesar de ter tudo o que sempre quis, não é feliz: sente um vazio e uma solidão enormes dentro de si. No fundo, Ken sabe que não é o que parece ser: ele, a dado momento, percebe que é apenas uma personagem numa “peça de teatro”; é apenas um meio para atingir um fim, não se sentindo valorizado pela pessoa que é, mas apenas pela pessoa que ele representa — e isso espoleta uma urgência por ser, finalmente, ouvido e compreendido.

“Barbie” (2023)

Também há espaço na narrativa para uma crítica à própria Mattel, a fabricante da boneca Barbie, e à Warner Bros., a distribuidora do filme, ao expor as contradições e os interesses por detrás da indústria do entretenimento. O filme espelha, inclusive, como a Barbie é um produto comercial que visa lucrar com o desejo das pessoas por uma vida idealizada e superficial. Além disso, ironiza as estratégias de marketing e as fórmulas narrativas usadas pelos estúdios para atrair o público. Desta forma, a narrativa aproveita-se do seu próprio carácter metafórico para subverter as expectativas dos espectadores e, assim, surpreendê-los com reviravoltas (temáticas) inesperadas.

Porém, há que dizê-lo: apesar de “Barbie” nos conseguir surpreender, de quando em vez, com abordagens maduras e ricas, este pode ser encarado no seu todo como um filme previsível no rumo dos seus acontecimentos. Além disso, acredito que o seu tom mais infantil poderá não ser tão bem recebido pelo espectador, podendo este ter alguma dificuldade em ver a intencionalidade satírica que o comanda. Não por culpa do filme, atenção.

Este ponto revela também a própria ousadia da obra, ao criar, pela magia de Greta Gerwig, um universo tão puro e rico como é o de “Barbie”. Ainda assim, fica a sensação de que falta algo à narrativa para dar aquele salto qualitativo, numa história que, talvez pelo seu tema, estivesse já algo limitada (criativamente) per si. Por outro lado, isso não impediu a realizadora de fazer um trabalho notável na construção de um mundo tão cinematograficamente autêntico como foi este que o espectador pôde encontrar.

Barbie (Margot Robbie)

“Barbie” é, portanto, uma obra original, divertida e inteligente, que consegue entreter e emocionar, ao mesmo tempo que incita reflexões sobre questões importantes da sociedade atual. Deste modo, o filme é um exemplo de como o cinema pode ser uma forma de arte que combina estética, humor e crítica social. Estamos perante uma produção inspiradora, capaz, porventura, de agradar a públicos de todas as idades, sendo, acima de tudo, uma história sobre a importância da auto-aceitação, da amizade e da família.

É, sem dúvida, uma obra sobre o poder da imaginação e da criatividade, capaz de nos fazer pensar sobre a nossa própria identidade, sobre como estamos e queremos estar no mundo e sobre a importância de nos aceitarmos como um todo.

Por um cinema feliz.

Tiago Ferreira

Rating: 3 out of 4.

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