OBarrete

Porque A Arte Somos Nós

A Patagónia é um sítio afastado e próximo daquilo que pode ser considerado o fim do mundo, na Argentina. Apresentando cenários bravios e desafiadores, entende-se que o ofício de faroleiro exige um ensimesmamento muito grande. Assim é a vida de Beto Bubas (interpretado por Joaquín Furriel) na película “El faro de las orcas”. Com uma duração de 1h50min, o argumento centrado em apenas três personagens inclui Maribel Verdú (que interpreta Lola) e o talento precoce de Joaquín Rapalini (que interpreta o miúdo autista Tristán).

A premissa básica é simples: uma mãe vem de Madrid em busca de uma cura alternativa para a sua criança, que interagiu num documentário da National Geographic tendo em Beto um encantador de orcas, e foi a primeira vez em que Tristán interagiu com o mundo exterior, tocando na televisão. A princípio arredio como um bicho do mato, destes que parecem entender-se melhor com os bichos, a resistência do faroleiro vai sendo desconstruída e parece haver uma transferência com aquela intrusa e o seu miúdo.

Joaquín Furriel (Beto)

O deleite de “El faro de las orcas” é um certo ar de descanso. Rapidamente, somos convidados a conhecer a casa no meio do nada, sem instalações sanitárias e onde não existe sinal de telemóvel. Um cavalo branco e uma motocicleta são meios de locomoção e a praia acaba por ser o lugar preferido do morador, convidando as visitas a fazerem o mesmo. Na posse de uma gaita, e embarcando em direção às suas amigas, e se Tristán tivesse a oportunidade de tocar com as suas próprias mãos aqueles colossos de animais?

A paixão acontece como tinha que ser e o interessante é que aos poucos o muro de Beto vai sendo derrubado. Lola é resistente, não deseja mais sofrer devido a um coração mal curado, e os seus cuidados estão depositados apenas no filho. No corrente, ficamos a par do drama de Beto, do acidente e entendemos os motivos da sua transferência emotiva. Uma festa popular bastante aguardada, que tem a ver com o tosquiamento das ovelhas, leva-os a interagir com mais moradores, de uma vila próxima, e o enternecimento na dança quase faz predizer um final feliz para o trio.

Joaquín Furriel (Beto) e Joaquín Rapalini (Tristán)

Mas momentos idílicos parecem sempre estar com os dias contados, e após receber uma carta urgente da capital espanhola, é hora de se despedir e deixar o paraíso para trás. O prémio por tão ousada excursão foi o facto de o miúdo se conseguir soltar aos poucos, ousando até desaparecer para dar ele mesmo o alimento, um catado de algas, às suas amigas orcas. Cenas tocantes!

Por falar nelas, um argumento enxuto permitiu essas observações com mais acuidade e redobrada sensibilidade, como se a Natureza nos exigisse um tempo para contemplar. Analogias à parte, todos nós nos nossos autismos sociais, que tanto gostamos de ver o belo, quem sabe não nos desafeamos a ir sentir o vento e o frio na pele? Um desafio e tanto.

Realizado por Gerardo Olivares e lançado em 2016, este filme é uma tela artística de relevo. A nos ensinar que a sensibilidade e o amor pela natureza nos indicam um pertencimento, do qual muitas das vezes nos desviamos.

Marcelo Pereira Rodrigues

Rating: 4 out of 4.

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