Há uns dias, recebi o seguinte comentário crítico, de Ludmila Andrade, cito:
“Marcelo, estou no meio do livro ‘A Queda’. Eu acabei lendo o ‘Perfume de Mulher’ antes. E estou gostando bastante. Ele é realmente desafiador em tempos de Super Heróis da Marvel e ‘Adult Fantasy’ tipo ‘Game of Thrones’.“
Refleti muito e inspirei-me para escrever esta reflexão. Não assisti a “Game of Thrones” (2011-2019) e dos heróis da Marvel gosto do Homem-Aranha (ele é da Marvel?) e do Batman (herói da DC Comics). Gosto deles pela suas dimensões humanas e complexas.
A crítica de Ludmila é de uma ironia inteligente. Realmente, deixamos de decidir a partir do momento em que os media, o que é falado boca a boca, o maciço da publicidade decide por nós. Como se o novo filme do agente secreto 007 estreado no último dia 30 de setembro fosse o acontecimento mundial de maior importância. Nada contra a franquia, gosto dos filmes, mas irei assisti-lo quando e onde puder. Sem a pressa e o frenesi característico dos consumidores de baldes de pipocas no cinema.

Não desejo ditar regras para ninguém, mas me arvorarei aqui a citar alguns comportamentos meus de consumo: dificilmente aceito a sugestão da Netflix para assistir a uma série que está a bombar. Ignoro. Não sou sugestionável. Vasculhando com calma, meia hora de escolha, assisto ao ótimo “Hiacynt” (drama policial histórico polonês, um autêntico filme alternativo deste presente ano). Numa livraria, dificilmente paro na secção dos best-sellers (nada contra), e prefiro escavar obras menos conhecidas. Penso que desta forma construímos o nosso gosto, sem nos deixarmos manipular pela indústria cultural.
No meu ofício de escritor, nunca me dobrei ao que o mercado está a pedir. Nunca aderi às modas dos livrinhos motivacionais de superação; livros com temáticas tendo como pano de fundo comunidades (favelas); mocinhas de pescoços suculentos sendo mordidas por vampiros e romances água com açúcar tipo “Júlia”. Mais uma vez, nada contra. Mas essa não é a minha inspiração ao escrever.
De forma que a crítica de Ludmila me afaga o ego e esclareço que é o de escritor. Sim, procuro escrever e publicar livros que desafiam os leitores a pensarem comigo. De construírem a história junto comigo. Que ofereça reflexão e que cumpra o seu papel de entretenimento com o facto de deixá-los com “a pulga atrás da orelha”. Lembro-me agora de quando as minhas bandas musicais lançavam os seus álbuns. As rádios elencavam a “música de trabalho” e ficava sempre curioso para ouvir as outras faixas, definidas como lado B. Desde jovem, me atentava para o que o artista queria expressar no todo.
Agradeço mais uma vez a Ludmila pela oportunidade desta ótima conversa. Mesmo indireta, parece que estávamos a tomar um expresso e a dialogar acerca de comportamentos. Se me arvorasse a ser um conselheiro, sugeriria com humildade: não seja “Maria vai com as outras”, “não siga a maioria, pois caso eles se dirijam para o buraco, você irá junto”, e tenha o poder de escolha daquilo que você deseja de facto ler, assistir e ouvir.
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Parabéns vc mim deu resgate daquilo que é valioso
Muito obrigado pela sua atenção e leitura. Um abraço e boas coisas!