“Insomnia” (1997) inspirou um remake de Christopher Nolan, de 2002. Esta nova produção (em português, “Insónia”) conta a história de uma investigação, chefiada por Will Dormer (Al Pacino), que procura desvendar o assassinato de uma jovem rapariga, Kay Connell. Will e o seu parceiro Hap Eckhart (Martin Donovan) partem de L.A. para o Alasca, onde tudo se sucedeu, para auxiliar a inspectora local, Ellie Burr (Hilary Swank). A região para a qual se deslocam tem a particularidade de nela não anoitecer. Will e Hap são colocados neste caso perante um clima de problemas judiciais, relativos a um caso anterior, e não propriamente na melhor fase da sua ‘amizade’.
Kay revela algumas marcas de violência anteriores ao assassinato, estando elas relacionadas com a relação que tinha com o seu namorado, Randy Stetz (Jonathan Jackson). Dessa forma, Randy torna-se um possível suspeito. Mas, numa busca importante para o desenvolvimento do caso, a equipa de investigação depara-se com um nevoeiro, que lhes causa bastantes problemas. Nesse interlúdio, dá-se a fuga de um indivíduo cuja face estava escondida, mas que naquele momento se tornou o principal suspeito. No entanto, e como a visibilidade era reduzida, Will acaba por confundir o suspeito com o seu colega Hap, alvejando-o.

Aquele tiro acabaria por levar à sua morte, e Will, numa situação de pânico, mente perante a equipa, que não estava lá no momento. O que é facto é que esta situação cria um fosso interior profundo em Will, que a partir daquele momento é atormentado pelo remorso de ter morto o seu próprio colega, mesmo que involuntariamente. Toda essa situação, aliada à claridade absoluta que se faz sentir todo o dia, não o permite dormir, espoletando uma insónia aterrorizante.
Posteriormente, Will recebe alguns telefonemas anónimos do indivíduo que no nevoeiro consegue escapar, admitindo que o viu a disparar sobre o colega. Todo esse confronto de verdades deixou-o ainda mais amedrontado com o que pudesse vir a acontecer. No entanto, acaba por fazer um avanço importante na investigação, descobrindo uma pista fulcral sobre o autor dos livros que Kay lia, Walter Finch (Robin Williams), o tal principal suspeito, que concorda em se encontrar com Will.
Nesse encontro, Walter promove um acordo: Will não conta a verdade e Walter faz o mesmo. Tudo isto cria um sentimento quase de sintonia, de compreensão mórbida e de ajuda mútua, entre duas almas distintas, mas ambos assassinos. Walter toca muito na questão de tudo ter sido um acto involuntário, fazendo um paralelismo com Will.
À medida que as noites em claro se vão contabilizando, os devaneios de Will vão sofrendo um acréscimo, tal como a sua (in)consciência perante o que é real e ilusório. Tudo isto agrava a sua culpa perante o que aconteceu, mas também lhe levanta dúvidas sobre se aquele disparo terá sido, ou não, intencional.

Estamos perante um thriller muito consistente de Nolan, que consegue dar-nos uns pozinhos de emoção prolongada no tempo, quase contagiante (de forma, claro, positiva) para o auditório, permitindo-nos entrar, de forma também ela emotiva, na narrativa. Outra questão relevante tem que ver com a profundidade da sua realização, que consegue sempre transpor um carácter bastante sui generis ao filme, mesmo sendo este um remake. Estamos a falar, portanto, de uma obra com imensa personalidade, com uma interpretação muito interessante por parte do protagonista Al Pacino, que dá vida e intensidade a um drama psicológico, cuja velocidade e profundidade não podem ser dissociadas da marca Christopher Nolan.
Não é necessariamente um filme que possa causar insónias, mas certamente não se trata de uma produção da qual nos esqueçamos rapidamente. A bela metáfora que aqui se apresenta carrega consigo toda a claridade cinematográfica necessária – e, neste caso, suficiente – para nos permitir dormir melhor e sonhar com a sétima arte.
Por um cinema feliz.