No que diz respeito ao cinema de terror coreano, os holofotes estão todos apontados ao filme “Train to Busan 2” (2020), a sequela do excelente “Train to Busan” (2016). Com um crescente sentimento de desilusão a acompanhar quem esperava por algo mais desta estreia recente – incluindo o crítico que vos escreve – os aficionados pelo cinema que coabitam vivos e mortos-vivos podem encontrar algum consolo em “#Alive” (“#Saraitda“), realizado por Il Cho e escrito pelo próprio, a par com o argumentista Matt Naylor. Um filme que está longe de reinventar a roda e oferecer uma narrativa fresca, mas que proporciona suspense e ação em doses recomendáveis.
Desde as primeiras cenas que a história de “#Alive” vai muito ao encontro do drama de zombies francês, “La nuit a dévoré le monde” (2018). Oh Joon-woo (Yoo Ah-in), um jovem despreocupado que tem como principal forma de entretenimento o gaming, acorda com o ruído do despertador para o que espera ser mais um dia na sua rotina rotineira. No entanto, enquanto jogava, recebe a notícia de que hordas de zombies estão a devastar as ruas de Seul. A perspetiva privilegiada da sua varanda revela um cenário desesperado, tumultuoso, de choques entre corpos. Isolado e com recursos limitados, Joon-woo consegue ser bem-sucedido no seu primeiro embate com um membro dos mortos-vivos. Um dos muitos desafios que tem pela frente.

Não é, portanto, um template revolucionário para filmar uma narrativa do subgénero, mas as memórias recentes do confinamento e a possível reincidência da Covid-19 em forma de segunda vaga, tornam o filme de Il Cho particularmente ressonante. E tal como devemos todos usar máscaras e praticar o badalado distanciamento social, também Oh Joon-woo toma as devidas precauções para sobreviver e lidar com a ameaça – obedece à ordem de permanecer em casa, faz o racionamento da comida e procura não enlouquecer (sendo esta última mais difícil de cumprir).
Até porque neste caso o perigo é bem visível. Os mortos-vivos, que reagem de forma idêntica aos que podemos observar em “28 Dias Depois” (2002), apresentam um ar grotesco e pormenores macabros. Com olhos inicialmente sangrentos, a cor eventualmente transita para um esbranquiçado vazio. Um ótimo trabalho do departamento de maquilhagem e efeitos.
Quanto às interpretações, Yoo Ah-in, depois da brilhante performance em “Em Chamas” (2018), volta a somar pontos com uma prestação que eleva sem dúvida o papel. A personagem que encarna é estereotipa e relacionável através dos valores universais que a história está a retratar. Ou seja, per si, o protagonista não tem muita personalidade ou um arco narrativo de tirar o chapéu. Contudo, funciona para refletir o que qualquer um de nós podia fazer face às terríveis circunstâncias.
Acaba por reciclar a ansiedade existencial de não conseguir contactar com o exterior, carecer de mantimentos ou viver em preocupação permanente. Shin-Hye Park, que na pele de Kim Yoo-bin representa a luz ao fundo do túnel de Oh Joon-woo, acaba por ser um acrescento meritório ao filme.

Enquanto entretém e consegue algumas sequências de maior intensidade, “#Alive” não consegue destacar-se por algumas razões. Em relação à narrativa, esta além de ser bastante derivativa, está também preenchida com pequenas inconsistências como o facto de a bateria do telemóvel do protagonista insistir em não acabar, apesar dos vários dias sem eletricidade. Outros detalhes deste género acumulam com facilidade e colocam uma lente recreativa num cenário potencialmente realista. Sendo que se estamos a falar de conveniência, é impossível não mencionar o quão perto as cenas finais roçam o mecanismo Deus ex machina.
Chegado o veredito, a primeira longa-metragem do realizador cumpre aquilo que propõe. Dificilmente a vão ver espalhada nos Top 10 do final do ano, sendo que enquanto pequena gema do subgénero de zombies ultrapassa um pouco os requisitos mínimos. Uma jogada segura cujo sucesso pode alavancar os criativos a orquestrar um enredo mais original e emocionante.