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Porque A Arte Somos Nós

Se existe um músico que ficará para sempre gravado na história da musica, é Prince. Mais ou menos consensual, estou em crer que ninguém que se interesse pelo movimento musical contemporâneo fica indiferente ao homem, criativo, músico e produtor que ele foi, entre outras coisas. Tinha defeitos? Sim, certamente que tinha, mas as suas qualidades superavam largamente eventuais defeitos (como artista, claro).

Assim sendo, não é fácil falar acerca de uma personagem desta dimensão! Vou procurar explanar este trabalho em três partes distintas para que seja mais fácil compreender quem foi esta estrela maior da constelação musical contemporânea. Num primeiro capitulo “O Homem“, num segundo “A Obra” e num terceiro “O Legado“. Espero que gostem.

O Homem

Se há caso em que a expressão “filho de peixe sabe nadar” se aplica, é o de Prince Rogers Nelson. Nascido no dia 7 de Junho de 1958 em Minneapolis, Minnesota, nos Estados Unidos da América, era filho de músicos jazz. Sua mãe, Mattie Della, era cantora jazz e seu pai, John Lewis Nelson, era pianista e compositor. Ambos faziam parte do Prince Rogers Trio, que atuava como banda jazz e de onde surge o seu nome de batismo, pois o seu pai decidiu dar-lhe o seu próprio nome artístico, Prince Rogers. Tal ficou a dever-se ao facto de o pai de Prince achar que esse seria um bom legado para o filho, fazendo dele um futuro artista na sua própria linhagem.

Enquanto miúdo, Prince não gostava do seu nome e logo aí se começou a revelar bastante criativo, ao conseguir que o tratassem por Skipper, nome que perdurou até à sua adolescência. Ainda em partilha familiar com seus pais e a sua irmã, Prince cedo começou a revelar a sua apetência para a música, compondo o seu primeiro tema musical no piano de seu pai quando tinha apenas sete anos, Funk Machine era o titulo! Mas, aos dez anos de idade as coisas iriam mudar, provocando alguma turbulência na sua vida.

Um jovem Prince

Os pais divorciam-se e a sua mãe casa novamente, com Hayward Baker, que por um lado trouxe maior estabilidade financeira à sua mãe, mas que por outro, ao ter um filho com esta, provoca alguma dificuldade de convivência no seio da família com o seu meio-irmão. Prince revoltava-se bastante com o facto de ter que mudar assiduamente de casa, pois partilhava vida com a sua mãe e com o seu pai separadamente.

Mais tarde, e após o seu pai o expulsar de casa, Prince decide ir viver com os seus vizinhos de longa data com quem se dava muito bem, a família Anderson, fazendo uma grande amizade com o filho destes, André Cymone, com quem viria a partilhar o início da sua carreira musical.

Tendo vivido sempre na sua cidade natal, Minneapolis, o jovem Prince frequentou a Bryant Junior High School e mais tarde a Central High School, tendo sido também aluno da Minnesota Dance Theatre, onde ingressou ao abrigo do Programa de Artes Urbanas das Escolas Publicas de Minneapolis. Por esta altura já estava a desenvolver a sua enorme capacidade como músico instrumentista, dominando desde a sua querida guitarra até à percussão. Esta foi uma característica que podemos afirmar que praticamente nasceu com ele, pois estamos a falar de um jovem com pouco mais de 15 anos!

Não é por acaso que em 1973 o conhecido produtor R&B e soul, Jimmy Jam fica impressionado com as capacidades musicais deste jovem que revelava, para além do domínio instrumental, uma grande capacidade de trabalho e organização, ficando desde logo no seu radar. No entanto, seria com Pepe Willie (marido da sua prima Shauntel) que Prince começaria a pôr em prática as suas qualidades, corria o ano de 1975. Willie forma uma banda de nome “94 East” e contrata Prince e André Cymone para gravar algumas das faixas da banda. Ainda que fosse Willie a escrever os temas, a dupla Prince/Cymone consegue criar e gravar um tema do álbum. Para além, disso Prince participa com a sua guitarra.

Após esta primeira experiência, Prince grava uma demo nos estúdios do produtor Chris Moon, no entanto, este não tinha capacidade nem conhecimentos para lançar o artista para outros voos e decide levar esta demo a Owen Husney, conhecido empresário de Minneapolis, que convida Prince para gravar novas demos nos estúdios da “Sound 80”. Como se isto já não fosse promissor, Husney oferece um contrato de agenciamento a Prince, tinha este apenas 19 anos de idade, e, com a sua capacidade de empresário astuto, leva estas demos devidamente enquadradas com um “kit” promocional do artista junto das grandes produtoras discográficas.

O interesse foi imediato por parte destas, vindo Prince (com o aconselhamento de Husney) a assinar com a Warner Bros. um contrato para a produção de três álbuns em que lhe era concedida o controle criativo dos mesmos. No dia 7 de Abril de 1978 era lançado oficialmente o primeiro de 39 trabalhos originais produzidos por Prince, tinha ele 20 anos, e intitulou-se “For You”.

Prince escreveu, compôs, produziu, fez os arranjos e tocou os 27 instrumentos que resultaram nas faixas deste álbum (esta seria a imagem de marca de do músico ao longo da sua carreira), à exceção de Soft and Wet, que é escrita em parceria com Moon. A primeira apresentação pública de Prince viria a acontecer no dia 5 de Janeiro de 1979 no Capri Theatre, em Minneapolis.

Ao longo da sua carreira, Prince demonstrou ter uma personalidade que por um lado era algo complexa e por outro era algo mística no âmbito do processo criativo. Era um homem de causas, como está refletido em muito do seu trabalho e nunca se deixou subjugar a grupos de interesse defendendo até ao limite as suas posições.

Em questões contratuais com editoras, chegou ao limite de se assumir como escravo, não deixando no entanto de cumprir as suas obrigações. Mas, é como criativo que Prince se distinguiu dos demais. A sua imensa capacidade criativa revelava-se no seu trabalho de forma clara e sincera, tanto ao nível da composição escrita como ao nível da composição harmónica, demonstrando em várias obras o seu espírito rebelde e despreocupado com o que possam dizer ou pensar a seu respeito.

Tudo isto era compensado com a sua obsessão criativa que obedecia a métodos rigorosos de trabalho, elevando os níveis de exigência não só a si próprio como aos que o rodeavam. Sendo um multi-instrumentista, a concepção das suas obras era não só imaginada na sua cabeça como registada em suporte sonoro, fazendo uso dos seus próprios estúdios de ensaio e gravação. Para além de tudo isto, Prince foi um criativo na imagem que transmitia ao mundo de si próprio, tanto na sua imagem física como na concepção de moda que a ele estava associada. Tinha um gosto refinado e fazia questão de se apresentar de forma vistosa e extravagante, diferente de todos os outros.

Prince ao vivo em 1984
Prince no início dos anos 90

Utilizou ao longo da sua carreira vários pseudónimos, demonstrando esse espírito multifacetado e desafiante de uma criatividade sem fronteiras, tendo até abandonado o seu nome verdadeiro para poder editar livre de compromissos com editoras discográficas (chegou a afirmar que o seu nome pertencia às editoras…). Fê-lo também para creditar a autoria ou produção de trabalhos para outros músicos. Os seus vídeoclips eram normalmente muito vistosos e teatrais, não se coibindo de ser o “mestre de orquestra”. Tudo tinha que ser perfeito e estar no seu lugar, como ele imaginava.

Teve passagens mais ou menos bem sucedidas pelo cinema, sendo “Purple Rain” (em português “Viva a Música“) o trabalho mais conhecido, onde, para além de compor a banda sonora, também trabalhou como ator. Dono de uma voz única caracterizada por uma amplitude que ia dos icónicos falsetes ao barítono, distinguia-se dos demais, aliando a tudo isto a sua visão alargada da mistura de ritmos e sons que iam do funk, soul, R&B, pop ao synth-pop ou ao rock.

Nos seus 57 anos de vida, Prince deixou uma marca indelével no panorama musical não só através da sua criatividade como através da sua imagem. Foi um sex symbol apesar da sua identidade andrógina, desafiando estereótipos raciais e de género. Defendeu causas e lutou pela sua independência enquanto artista e criador. Fez do amor a sua inspiração maior.

Our first post-everything pop star, defying easy categories of race, genre and commercial appeal


Los Angeles Times

Jorge Gameiro

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