“Seinfeld” (1989-1998) conta a história de Jerry Seinfeld (interpretado pelo próprio ator), um comediante stand-up que tenta ganhar a sua vida em Nova Iorque. Ele vive num pequeno apartamento e recebe regularmente a visita dos seus amigos George Costanza (Jason Alexander), Elaine Benes (Julia Louis-Dreyfus) e Cosmo Kramer (Michael Richards). O dia-a-dia dos quatro é repleto de problemas financeiros e amorosos, todos eles lidados com imenso humor. A série foi criada por Larry David e Jerry Seinfeld, este último sendo o protagonista do programa enquanto versão fictícia de si mesmo.
“Seinfeld” é considerada uma das melhores séries televisivas já realizadas, tendo sido eleito o “melhor programa de todos os tempos” pelo TV Guide em 2002 e o terceiro “melhor programa dos últimos 25 anos” pela Entertainment Weekly, apenas atrás de “The Sopranos” (1999-2007) e “The Simpsons” (1989- ).
“Seinfeld” destaca-se das demais séries de comédia no sentido em que, em vez de seguir uma linha temática fixa, prefere focar a sua narrativa em meros incidentes do quotidiano, acabando por não se cingir a nada em específico e, em contrapartida, conseguir tocar em tudo aquilo que é essencial na nossa vida. Desta forma, centra a sua mensagem no tentar lidar com as amargas injustiças da vida, sendo que o ponto de vista apresentado corresponde, em certa medida, à filosofia do niilismo, isto é, a ideia segundo a qual a vida não tem sentido e, desta forma, temos que aceitar que tudo o que acontece pode ser, simplesmente, o resultado de aleatoriedade.

Além disso, uma parte significativa das personagens, quer principais, quer secundárias, foram, efetivamente, modeladas em função de conhecidos de Jerry Seinfeld e Larry David na vida real. Aliás, a própria personagem de George Costanza é inspirada em Larry David.
Estruturalmente falando, “Seinfeld” centra grande parte do seu enredo na personagem principal, Jerry, sendo que a maioria dos episódios começam com excertos dos seus espectáculos, que servem de mote para o assunto – ou assuntos – que serão trabalhados na história. E, apesar dos tais assuntos do nosso quotidiano variarem bastante em índole e não seguirem uma lógica, a verdade é que, globalmente falando, “Seinfeld” apresenta esforços consistentes para manter essa continuidade tão necessária para fruir da série em pleno.
Desta forma, as personagens e os enredos dos episódios anteriores são citados e devidamente desenvolvidos posteriormente e, com isto, os arcos narrativos conseguem coexistir acertada e irmãmente.
Outra questão bastante relevante em “Seinfeld” diz respeito à dicotomia da sua moral global, no sentido em que não há um foco interventivo pré-estabelecido. Isto é, ao chegarmos ao final de cada episódio, perante as aprendizagens infinitas que são possíveis na história, a série não imortaliza uma lição de moral óbvia e objetiva para o espectador abraçar: pelo contrário, é o espectador que tem de dar o seu próprio sentido àquilo que vê e ser introspetivo o suficiente para perceber se determinado comportamento, em função da sua verdade, é ou não incorreto.
Por vezes, tal como todos nós o somos de vez em quando, as personagens podem denotar uma certa indiferença e insensibilidade para com o mundo em seu redor; no entanto, “Seinfeld” prefere olhar para cada uma delas com um olhar respeitoso, global, sem rótulos que faz de cada uma das suas personagens principais – deste quarteto invulgar e sui generis – um coletivo de pura e sincera humanidade. É neste aspeto que “Seinfeld” consegue distinguir-se e diferenciar-se de outras produções.

Além de tudo isso, “Seinfeld” consegue quebrar algumas convenções da televisão mainstream: esta série, frequentemente descrita como sendo sobre “nada”, apresenta alguns elementos que encaixam na denominação de pós-moderna, sendo que os episódios são comummente guiados por um humor que intercala os conflitos superficiais das nossas personagens com certos comportamentos estranhos e invulgares por parte destas.
Neste sentido, as diversas histórias que “Seinfeld” cria e possibilita giram em torno do envolvimento de uma certa personagem na vida da outra, o que muitas vezes gera consequências, simplesmente, catastróficas. No entanto, nessa viagem, as personagens tendem a revelar um certo egoísmo e egocentrismo, não aprendendo necessariamente algo objetivo com a sua experiência.
Por outro lado, eles acabam por ser o meio para o espectador atingir o fim de se questionar a si mesmo, de refletir sobre a sua própria vida e sobre a sua estabilidade emocional. “Seinfeld” permite, portanto, uma experiência verdadeiramente profunda e inesquecível, transmitindo muito mais do que aquilo que pode ser, porventura, dissecado a olho nu – e, mesmo não se focando em nada, acaba por conseguir tocar em tudo.
Pela beleza da sétima arte.
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