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Caso se pergunte a um fã dos jogos “God of War”, daqueles que desde início acompanharam a saga com avidez, sobre qual dos jogos foi o mais antecipado na altura em que saiu, dificilmente a resposta não recairá sobre “God of War III”. E a verdade é que, fazendo uma retrospetiva da franquia, percebe-se a razão desta afirmação.

Primeiro, porque a narrativa iniciada no segundo título da série (a vingança contra Zeus) terminou naquele que pode ser considerado um dos maiores cliffhangers da história do gaming. Segundo, por se revelar como o primeiro jogo da série a ser lançado de forma nativa para a PlayStation 3. Terceiro, um período de quase três anos de espera serviu para aguçar ainda mais a quase inevitável ânsia que se fora formando por um jogo que se sabia de antemão ser o último da série principal.

Não havendo grandes dúvidas daquilo que seria o aspeto narrativo da história (esta ficou bem indiciada no final do segundo jogo), a grande expectativa estava tanto no capítulo gráfico como em ver potenciais alterações ao sistema de combate. Ainda que o jogo, lançado em 2010 para a PS3 tenha sido um grande sucesso (ocupando o top 10 de jogos mais vendidos de sempre da consola), a presente crítica irá ser focada na ainda mais polida versão remaster, lançada em 2015 para a PlayStation 4, que, além de melhorias gráficas, possibilita a execução do jogo com um frame rate mais alto (60 fps) e suporte Full HD.

No capítulo gráfico, “God of War III” dá um grande salto em relação aos antecessores

Continuando a sua jornada de vingança contra Zeus, agora com a ajuda dos Titãs, Kratos vê a sua subida ao Monte Olimpo dificultada quando, já depois de derrotar o deus Poseidon, percebe que estava a ser usado por Gaia (como um mero peão na revolta dos Titãs contra o Olimpo), que o atira das colinas do Olimpo, causando a sua queda até ao submundo. Esta queda acaba por combinar a vertente narrativa a uma necessidade de gameplay, pois, além de criar adversidades na jornada de Kratos, faz com que este perca as armas adquiridas até então, abrindo espaço para novos instrumentos de luta.

Ainda no submundo, casa do deus Hares, Kratos encontra o espírito de Athena, que lhe dá um novo conjunto de Lâminas e lhe diz que, para derrotar Zeus, Kratos deverá extinguir a Chama do Olimpo. É este rápido estabelecimento de um objetivo primordial (comum a todos os jogos da série), que inicia a procura de Kratos pela já mencionada Chama, numa nova ascensão até ao Monte Olimpo que tentará ser evitada por deuses como Hades, Helios, Hermes e Hercules (antes do inevitável Zeus) e por Titãs como Gaia ou Cronos.

O jogo é marcado por inúmeros confrontos contra deuses do Olimpo

O fardo narrativo de “God of War III” acaba por ser colocado nestas batalhas contra deuses e titãs, talvez confiando demasiado que seriam suficientes para carregar com os restantes momentos da história. Momentos como o duelo com Cronos ficam particularmente na memória pela forma como redefinem aquilo que é possível em termos de escala num videojogo. Mas, se é verdade que estes confrontos continuam (e, em certos casos, até ultrapassam) a tendência normal da série para apresentar momentos épicos e satisfatórios, a unidade narrativa acaba por sofrer com essa decisão.

É uma sensação presente ao longo do jogo a de que a narrativa foi criada em cima destas batalhas escolhidas de antemão, como forma de as juntar numa história só. Contudo, a sensação final não deixa de ser a de uma história algo desconexa, ainda que, quando analisados os níveis a título individual, a experiência não seja ferida em demasia. A narrativa acaba por desculpar esta potencial desarticulação (quando analisada a um nível macro) com uma excelente etapa final, que, além de terminar a trilogia em grande, consegue a proeza de unir os três jogos numa narrativa maior.

Alguns dos titãs de “God of War III” são autênticos níveis do jogo

Novamente com uma jogabilidade conservadora (seguindo a regra de ouro “se funciona, não se deve mexer”), “God of War III” não apresenta grandes surpresas para os amantes dos jogos anteriores. As Blades continuam como a principal arma usada por Kratos, que pode ser combinada com outras armas ou magias. Aqui a principal diferença no sistema de combate está na forma como estas armas podem ser combinadas.

Em vez de haver os habituais quatro ataques mágicos gerais, cada uma das quatro armas principais tem associado um conjunto próprio de magias, algo que, numa situação normal, deveria ser elogiado por permitir uma grande variabilidade de estilos, contudo, o que acontece na verdade é que esta grande existência de escolhas não raras vezes quebra o ritmo do combate. Não só algumas das armas são demasiado semelhantes para justificarem a sua inclusão (por exemplo, nas quatro armas principais, três delas são praticamente iguais), bem como outras obrigam o jogador a colocar o jogo em pausa para trocar o ataque mágico.

Estas pequenas falhas podem ser apontadas como dores de crescimento de uma franquia que tentou sempre fazer cada novo jogo maior e mais épico que o anterior, mas porventura não teve a capacidade de limar aspetos que acabaram por jogar contra esse aumento de escala. Não obstante, “God of War III” é tudo aquilo que um fã da série desejaria para fechar a história de Kratos na sua vingança contra os deuses gregos.

Disponível em: PS3 (original), PS4 (remaster), PS Now (remaster), PS5 (remaster, via retrocompatibilidade da PS4)

Luís Ferreira

Rating: 3.5 out of 4.

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