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Porque A Arte Somos Nós

Em 1987, Terence Trent D’Arby editava o seu primeiro trabalho discográfico intitulado “Introducing the Hardline According to Terence Trent D’Arby” e afirmou na altura à comunicação social que “este é o álbum mais importante editado desde Sgt. Pepper dos Beatles“. Mais tarde viria a justificar aos mesmos que se tratou de uma manobra propositada e que só assim era possível “bater na cabeça das pessoas“! Não foi, obviamente, o trabalho mais importante desde Sgt. Pepper mas foi uma pérola semeada por este artista, que teria neste álbum o inicio e apogeu da sua, já longa, carreira.

Nascido em Nova Iorque, filho de mãe branca com origem norueguesa, cantora gospel, e de pai negro de origem senegalesa, Terence teve uma vida como muitos americanos comuns tendo praticado boxe na escola de boxe do Exército dos Estados Unidos (EU), onde veio a servir, chegando a estar destacado na Alemanha. Aí teve as suas primeiras experiências musicais e mais tarde, após ser dispensado pelo exército dos EU, mudou-se para Londres onde veio a assinar um contrato com a CBS Records.

É então em julho de 1987 que é editado em Inglaterra este primeiro trabalho de Terence, tendo vendido desde logo mais de um milhão de cópias nos primeiros três dias de comercialização. Esteve por várias semanas nos tops britânicos e conquistou cinco platinas. O álbum só viria a ser comercializado nos EU em outubro desse ano. De inspiração rock funk/R&B, Terence mostra desde logo ao que vem, manipulando vários instrumentos e dando aso à sua voz de timbre marcado e possante. Dos 11 temas que compõem este trabalho, podemos dizer que nenhum deles desilude, tendo obviamente alguns obtido maior sucesso. Estão nesta lista Wishing Well, Dance Little Sister, If You Let Me Stay e Sign Your Name.

Começando pelo principio, temos If You All Get to Haven, tema de ritmo muito interessante, recorrendo a coros e mensagem bem marcada. If You Let Me Stay é um tema mais leve e com recurso a instrumentos de sopro e teclas, que o tornam muito interessante. Wishing Well é todo ele Terence, sendo a imagem do artista em toda a sua plenitude. Ritmo super interessante. Dance Little Sister é à semelhança do tema anterior a marca do músico, com ritmos marcados muito bem conseguidos. Já em Seven More Days, Terence mostra-nos o outro lado, em ritmos mais lentos e aconchegantes. Coros muito interessantes, como, aliás, ao longo de todo o álbum.

Terence Trent D’Arby / The Guardian

Em Let’s Go Forward o artista traz-nos ritmos cadenciados fazendo, como sempre, uso da sua vocalização límpida em variações interessantes. Rain mostra-nos mais uma faceta criativa de Terence, fazendo uso de ritmos diversos e recursos instrumentais variados. O nono tema do álbum, Sign Your Name, é talvez o cartão de visita do mesmo e todos os instrumentos foram tocados por Terence, para além da voz e coros. É sem duvida um tema muito bem conseguido e que recolhe a unanimidade de quem o ouve pela sua suavidade e pureza.

As Yet Untitled é único, pois é cantado a cappella e, durante cinco minutos e meio, Terence tem a oportunidade de mostrar as suas capacidades vocais. E consegue de forma superior. Uma pérola dentro de uma pérola. O ultimo tema é Who’s Loving You, que é a única musica que não foi escrita pelo artista, sendo da autoria de “Smokey” Robinson. Trata-se de um clássico já adaptado por vários artistas e em que Terence faz a sua prórpria interpretação.

De referir que na sequência deste seu primeiro álbum, Terence Trent D’Arby ganhou em 1989 um Grammy na categoria Melhor Performance Vocal R&B, para além de ter alcançado o numero 1 das tabelas Billboard Hot 100 e Billboard R&B Albums, e em muitas outras por esse mundo fora. Faz parte dos “1001 Albums You Must Hear Before You Die” e é considerado como um importante registo para a década de 1980.

É, definitivamente, um trabalho muito interessante que deve ser escutado com alguma atenção e nostalgia. É bom saber que, em conjunto com muitos outros, Terence Trent D’Arby teve a genialidade de conceber este álbum que, pelo menos a mim, me apraz muito ouvir. O que é bom não se estraga!

Bons sons.

Jorge Gameiro

Rating: 4 out of 4.

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