OBarrete

Porque A Arte Somos Nós

Com 17 anos de carreira e 9 álbuns editados em estúdio, Trivium cimentou um estatuto no universo do heavy metal como poucos conseguiram. Uma das provas disso mesmo é o alcance do seu público, que deriva do ocasional adepto de música pesada até ao mais purista do género. Algo que reflete um pouco o seu trajeto, que oscila de um som mais maciço, em “Ember to Inferno” (2003) e “Ascendancy” (2005), até exemplos com uma vibe mais rock, que é o caso de “Silence in the Snow” (2015).

Com “What the Dead Men Say“, a banda liderada pelo vocalista e guitarrista Matt Heafy alcança a plenitude da maturação do seu som. Combina aspetos mais melódicos, que raramente foram esquecidos nas suas composições, com o punho e insaciabilidade que não reconheci no seu penúltimo esforço, “The Sin and the Sentence” (2017). O resultado é visível desde as primeiras faixas.

Antes de a banda rasgar tudo com o tema que dá nome ao álbum, um prelúdio instrumental intitulado IX prepara-nos para a viagem musical. É a calma antes da tempestade, como diz a expressão. A curiosidade é ampliada a mil, até que entra What the Dead Men Say e o vocal “GO!” dá o pontapé de saída para o melhor álbum da banda desde o seu magnum opus – “Shogun” (2008). A faixa é confiante, demonstra um grupo de músicos em plena sinergia e assina não só um refrão memorável como um trabalho de bateria incrível por parte de Alex Bent – que perdura faixa após faixa.

No single Catastrophist, mantém-se a qualidade da pedalada. É a faixa mais longa e com tons mais progressistas, a la Dream Theater, com surpresa atrás de surpresa e uma fluidez de altos e baixos que reforçam o lado mais técnico dos artistas. Se até aqui não havia dúvidas de que a voz de Matt Heafy estava bem e recomendava-se, Amongst the Shadows & the Stones vem destronar qualquer possível reparo menos positivo.

O álbum mal prepara o ouvinte para a bomba que lhe está prestes a cair em cima e os guturais de Heafy são parte da equação. Sente-se raiva e um desprezo delicioso nas suas palavras, que aliadas a não um, não dois, mas três solos de guitarra, cada um melhor que o outro, destacam a faixa como uma das mais intensas e memoráveis.

Trivium

Chegado o meio ponto do álbum, a banda desacelera com Bleed Into Me, que desde os primeiros instantes coloca em primeiro plano o baixista Paolo Gregoletto. Não só o baixo se faz pronunciar de forma inesperada e poderosa, como a música em geral consegue cativar através de uma melodia agradável, apesar de ter um núcleo mais tradicional. É em todo o caso uma mudança de ritmo bem-vinda que permite recuperar um pouco o fôlego para o que se segue. The Defiant evoca inicialmente a crueza dos riffs de “Ascendancy” (2005), mas é um solo enérgico e o trabalho vocal diverso por parte de Heafy e Cory Beaulieu que não deixam que a faixa seja indiferente.

Ao aproximar-nos do final do álbum, Sickness Unto You deixa claro que Trivium ainda tem muito gás no tanque. A letra é sobre a morte do bulldog francês de Heafy, Miyuki, e o misto de tristeza e raiva não escondem o quão pessoal esta canção é para o artista. Pode ouvir-se uma metalada mais progressista, toques de thrash e um breakdown equiparável a um orgasmo, se a música fosse sexo. Já em Scattering the Ashes, o álbum volta a tomar um relaxante para oferecer uma música curta, eficiente e mais focada em melodia. Uma mera preparação para Bending The Arc to Fear, cujos riffs sangram death metal, muito ao estilo do álbum “The Way Of All Flesh” (2008), da banda Gojira.

The Ones We Leave Behind marca a despedida de um álbum sem maçãs podres e com uma diversidade sonora admirável. Oferece vários elementos e géneros musicais que têm marcado a carreira da banda, conjugados em puro, inalterado metal. Não precisavam de mostrar nada a ninguém, mas é certo que com “What The Dead Men Say”, Trivium reforça que o mundo do heavy metal está muito melhor com eles do que sem eles.

Bernardo Freire

Rating: 3.5 out of 4.

Leave a Reply

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Discover more from OBarrete

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading