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Porque A Arte Somos Nós

Do realizador búlgaro Valeri Milev, “Bullets of Justice” é uma espécie de filme classe B, com muitos planos inconsistentes, edições básicas e um argumento insuficiente. Contudo, o principal objectivo do filme é comprido: fazer rir. Com muita acção, diálogos irrisórios e Muzzies (uma mistura de homem com porco), a película consegue sugar-nos para a sua (ir)realidade e proporcionar-nos uma experiência relaxante, divertida e diferente.

Com muito sangue e algum sexo à mistura, é impossível ficar indiferente ao filme escrito por Milev e por Timur Turisbekov, este último também o personagem principal da obra: Rob Justice. “Durante a Terceira Guerra Mundial, os americanos iniciam um projecto secreto para criar um super soldado combinando humanos com porcos. 25 anos mais tarde, uma raça chamada Muzzies ocupa o topo da cadeia alimentar e criam humanos para comer. Um grupo de sobreviventes humanos, escondidos num subsolo vai tentar descobrir com o chegaram ao poder e destruí-los.” Uma sinopse no mínimo esquisita, mas com uma reflexão subliminar quanto à postura da sociedade contemporânea no que toca à alimentação, e em toda uma má gerência de ecossistemas. Exercícios do género já foram recriados no cinema, como em “O Planeta dos Macacos“, onde o ser humano é subjugado ao poder dos animais. Uma inversão de papeis. Aqui acontece algo do género, com os humanos a serem a refeição preferida dos Muzzies – no mundo real são consumidas, por dia, toneladas de carne de porco.

À parte destas reflexões, que não deixam de ser relevantes na perspectiva da mensagem que os artistas querem fazer passar ao seu público, o filme fá-lo de uma forma pouco ortodoxa, deixando evoluir a narrativa para um banquete de piadas simples e chocantes. Durante a sua missão para combater os Muzzies, em que o objectivo é aniquilar a “Mãe”, de forma a impedir a reprodução de mais progenitores, Rob Justice encontra vários e diferentes desafios pela frente. O primeiro é superar a filosofia de seu pai, interpretado por Danny Trejo (“Machete“, 2010), que defende que a vida é “uma porcaria”. O segundo, é travar batalhas sem que a sua(s) parceira morra – com as quais mantém relações sexuais, e acabam sempre por ser uma baixa na vida de Rob, mas este faz questão de ter uma fotografia de cada uma no seu carro (mais de 10). O terceiro é, com a ajuda da sua irmã de bigode Raksha (Doroteya Toleva) e da Resistência dos Humanos, entrar na cidade (de Nova Iorque) controlada pelos Muzzies e vingar-se. Este é um personagem que acima de tudo procura vingança, pois à medida que a narrativa evolui, vai-nos sendo dado episódios da infância de Rob, permitindo traçar um perfil conturbado deste justiceiro num mundo ao contrário. Tudo isto acontece, mas a verdadeira piada está em como as coisas se desenrolam até lá chegar.

Cada imagem tem uma criatividade invulgar, sim, mas seguramente, uma capacidade de surpreender. Os planos feitos às feições dos Muzzies pretendem chocar, mas também soltar gargalhadas na sala de cinema, principalmente quando um dos “soldados” Muzzie se chama “Benedict Cara-de-Cu”. Penso que conseguem imaginar o formato da sua cara e a forma de comunicar… O trabalho de edição e efeitos especiais é básico, ficando na dúvida se não será algo propositado, pois certas cenas são tão boas de tão más são. Somos introduzidos a um robô em formato de pessoa, a um anão assassino, ou a um vilão rei dos desfiles de moda. O desenvolvimento da narrativa é uma espécie de corrida contra o tempo, com um crescendo rápido, pois falamos de um filme com 76 minutos de duração. Não existe nenhuma performance acima da média no elenco.

A obra vale pelo seu todo, que com o intuito de chocar, consegue somar uma dinâmica interessante e muita boa disposição. O filme é bastante gráfico no que toca à exposição do corpo humano – muitos deles obesos – e nas cenas de luta foca bastante as feridas expostas. Este, acima de tudo, acaba por ser uma crítica a nós próprios, pois para além dos tópicos já referidos no início do texto, temas como o incesto, a violência extrema e a ganância, são postos a nu pela película de Valeri Milev. O bom e o mau no seu melhor, in your face. Entretenimento puro.

Rating: 2 out of 4.

IMDB

Rotten Tomatoes

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