viva o rock brasileiro #8
Escândalos e mais escândalos. Um indivíduo perigoso rondando os lares das pobres ovelhinhas inocentes. Polícia para prender, dar o cacete e o exemplo. O menino de 12 anos assistia à caçada das autoridades a um roqueiro cabeludo, rebelde e solitário: Lobão. O ano era 1986, 87, e o Jornal Nacional (o principal telejornal brasileiro) noticiava o tumulto. Assistindo a uma atuação do músico no popular programa de auditório “Domingão do Faustão”, de 1989, ouço assombrado uma entrevistada sentenciar: “Lobão de deveria estar preso porque é usuário de drogas“. Acreditam nisso?
Tudo o que envolve Lobão é sempre cercado de bastante polémica, não obstante de o sujeito ser doce e meigo ao extremo, por mais contraditório que possa parecer. Mas vamos ao que interessa? Na casa da minha prima não tinha nenhum disco do músico, e sorte que tudo o que me chegou aos ouvidos foi a agitada canção Vida Bandida. Analisem a contundência da letra, num disco homónimo que foi produzido na cadeia:
“Chutou
A cara do cara caído, traiu
Traiu seu melhor, seu melhor amigo
Bateu, corrente, soco inglês e canivete
E o jornal não para de mandar
Elogios na primeira página
Sangue, porrada na madrugada
Sangue, porrada na madrugada
Vida! Vida, vida, vida
Vida bandida
Vida! Vida, vida, vida vida bandida
Vida! Vida, vida, vida vida bandida
Vida!
É preciso viver malandro
Assim não dá pra se segurar, não
A cana tá brava
E a vida tá dura
Mas um tiro só não vai me derrubar, não
É preciso viver malandro
Assim não dá pra se segurar, não
A cana tá brava
E a vida tá dura
Mas um tiro só não vai me derrubar
Vida! Vida, vida, vida
Vida bandida
Vida! Vida, vida, vida, vida bandida
Vida! Vida, vida, vida, vida bandida
Vida!
Correr, com lágrima
Com lágrima
Com lágrima nos olhos
Não é definitivamente pra qualquer um
Mas o riso corre fácil
Quando a grana corre solta
Vida! Vida, vida, vida, vida bandida
Vida! Vida, vida, vida, vida bandida
É preciso ver o sorriso da mina
Pra subida da Barra
Aí é só, é só, é só de brincadeira
Ainda não inventaram dinheiro
Que eu não pudesse ganhar, não!
Ainda não inventaram dinheiro
Que eu não pudesse ganhar
Vida! Vida, vida, vida
Vida bandida
Vida! Vida, vida, vida, vida bandida
Vida! Vida, vida, vida, vida bandida“

Na gravação original, a provocadora chamada Aí galera da 11. Diz respeito aos companheiros de cela. Ficou o registo. O talentoso músico já havia obtido alguns sucessos tais como Cena de Cinema e Me Chama, entre outras baladas, e foi um dos primeiros a desconfiar que a onda rock estava com os dias contados no Brasil, sendo que a sua língua ferina criticando tudo e todos não lhe permitia vida boa.
Dois anos após o lançamento do álbum “Vida Bandida”, consegui ouvir o LP inteiro. As canções são:
Lado A
Vida Bandida
Da Natureza dos Lobos
Nem Bem Nem Mal
Soldier Lips
Girassóis da Noite
Lado B
Esse Mundo que eu vivo
Vida Louca Vida
Tudo Veludo
Rádio Blá
Chorando no Campo
Os destaques ficam para Esse Mundo que eu vivo, Vida Louca Vida e Rádio Blá, que tocou bastante nas rádios. Um disco polémico que vendeu cerca de 400 mil cópias, ajudado pelo aspeto mediático da figura de Lobão, que debochado passou a circular com uma algema, pois entre saídas e chegadas às delegacias, preferiu ter a sua própria. Um sujeito com atitude! Ouçam essa preciosidade de disco.
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One thought on “Lobão e a sua trajetória tumultuada”