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“The Turing Test” é um jogo baseado em puzzles embutidos numa vertente narrativa forte. É fruto do trabalho de um pequeno estúdio chamado Bulkhead Interactive, com um lançamento feito em 2016 a cargo da conhecida Square Enix, na sua iniciativa para divulgar o trabalho de desenvolvedoras independentes. Os acontecimentos dão-se num futuro algo longínquo, onde uma equipa de astronautas é enviada para a Europa, uma das luas de Júpiter, para realizar escavações.

O jogador controla Ava Turing, um dos membros da equipa que se encontrava num sono criogénico durante uma fase inicial da missão e que foi acordada por T.O.M. (Technical Operations Machine), a máquina inteligente que controla a nave e monitoriza o projeto (semelhante a HAL 9000, mas mais ainda a GERTY, do filme “Moon – O Outro Lado da Lua” (2009)).

Quando Ava é acordada, recebe por parte de T.O.M. a informação de que os seus companheiros de missão se encontram em perigo e que Ava necessita de descer a Europa para os resgatar. O pequeno senão, que espoleta a inclusão dos puzzles na história, é que Ava terá que completar uma sucessão de testes que só poderão ser resolvidos por seres humanos, remetendo para o famoso Teste de Turing, que dá o nome ao jogo.

Ava Turing, protagonista do jogo

Grande parte da narrativa recai sobre os diálogos que vão sendo travados entre Ava Turing e T.O.M., em que este último lhe vai explicando o funcionamento dos testes, servindo sobretudo como um motor expositivo para o jogador. Estas conversas têm também o papel de explorar os temas da história, como o livre-arbítrio, a existência de criatividade artificial ou o papel da moralidade em problemas complexos.

Embora esta escolha de manter uma discussão permanente entre Ava e T.O.M. adense o carácter filosófico do jogo (com claras inspirações noutro jogo do género, “The Talos Principle“), é difícil de deixar de sentir que muitas das intervenções são incluídas à força na narrativa. Um dos melhores exemplos disso é a explicação de T.O.M. a Ava sobre aquilo em que consiste o Teste de Turing, algo que custa a ser credível que esta desconheça (fazendo lembrar a cena de “Interstellar” (2014) onde um dos astronautas explica a Cooper o que é um wormhole).

Os vários puzzles, separados por áreas e setores, consistem em salas que terão que ser atravessadas por Ava Turing para prosseguir com a sua missão. Em cada uma das salas poderão existir várias portas ou mecanismos que terão de ser ultrapassados para chegar à saída. A interação com o ambiente é feita através de uma arma especial que pode recolher e distribuir esferas de energia para os respetivos recetores (e com isso abrir portas ou ativar escadas e outros mecanismos).

Os puzzles consistem na movimentação de esferas energéticas usando uma arma especial

Em videojogos deste género, por muito boa que seja a história, esta raramente consegue ser separada dos seus constituintes atómicos (os ditos puzzles). Por isso mesmo, importa referir com que qualidade é que estes são encaixados na narrativa. Se analisados os melhores jogos baseados em puzzles, pode-se considerar que a resolução dos vários problemas tipicamente inclui três etapas.

Inicialmente existe um catch, algo que contradiz aquilo que o jogador poderá saber até então. Posteriormente, há uma quebra de assunções, onde o jogador terá que descobrir uma nova forma de olhar para o problema. A etapa final é o momento de revelação, a ocasião do eureka, quando o jogador percebe aquilo que tem que fazer para resolver o puzzle, um acontecimento que, quando bem estruturado pelo jogo, fica na memória do jogador.

Em “The Turing Test” é sobretudo a terceira fase que fica aquém das expectativas. A apresentação dos desafios é sólida e a curva de aprendizagem é bastante regular, mas em muitas das salas raramente existe a epifania que se espera após a sua resolução. Exceção a esta regra, contudo, são os puzzles opcionais, que conseguem compensar e contrariar alguma incapacidade geral para ir mais além no design destes últimos.

Ainda assim, “The Turing Test” é um jogo que merece ser experienciado, não excessivamente fácil ou difícil, e que deixa vários tópicos na mente do jogador após o término do jogo. Para adensar o tema da moralidade, vários finais são possíveis, pois decorrem de uma escolha final que terá de ser tomada pelo jogador.

Disponível em: Google Stadia, Nintendo Switch, PS4, XBox One, Windows

Luís Ferreira

Rating: 2.5 out of 4.

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