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Com um título de um trabalho como “Music for the Masses”, pareceria uma declaração incrivelmente pretensiosa em nome da banda se as músicas não estivessem à altura… Felizmente, as 10 faixas que aparecem no sexto álbum de estúdio dos Depeche Mode – sucessor de “Black Celebration” (1986) -, definitivamente são. Enquanto que um elevado número de bandas britânicas, muitas delas bastante populares, já estavam numa sintonia synth-pop por volta do início dos anos 80, sendo que na segunda metade da década começaram a baixar os seus padrões (ou a desaparecer completamente), ao passo que os Depeche Mode continuaram a fortalecer o seu legado.

Existe um ar de sofisticação em todo o álbum, sugerindo que a banda cresceu e refinou o seu som ao longo dos sete anos em que estiveram juntos para se sentirem confortáveis e confiantes o suficiente para lançar novas faixas synth-pop subtis e sugestivas, como Behind the Wheel – que não precisavam depender de letras óbvias ou riffs de sintetizador irritantemente cativantes, de forma a explanar a sua intenção.

Se recuperarmos o catálogo do grupo formado em Basildon até “Music for the Masses”, vemos que os rapazes fizeram exatamente isso. Começando como “synth-poppers” açucarados e desajeitados (a influência de Vince Clark atrai quantidades bastante equilibradas de crédito e desdém, dependendo de quem julga) antes de passar para uma adorável, mas confusa fase de sintetizador / pop industrial e, mais recentemente, sombria. Numa atmosfera de um buraco negro como “Black Celebration”, de 1986, é clara a forma como os Depeche Mode cresceram e adaptaram o seu som a uma frequência cada vez mais consistente de músicas sombrias, mas igualmente atraentes.

Andrew Fletcher, Martin Gore, Dave Gahan e Alan Wilder (esquerda para a direita) em 1987

Essa sofisticação é sentida ao longo de todo o trabalho, não apenas na já mencionada Behind the Wheel (pois leva o seu tempo para construir os vocais de barítono de Gahan, com um ritmo simples que ganha cada vez mais elementos à medida que avança), mas também em faixas como The Things You Said. Um Martin Gore que canta, uma faixa baixa que não precisa de uma batida rápida e contagiante para satisfazer – destaca-se ao focar-se nos vocais suaves como penas e nas letras tocantes, auxiliadas por uma melodia eletrónica atmosférica e exuberante.

Mesmo em certas tentativas mais deliberadas de sucesso nas billboards como Strangelove, a faixa mantém a integridade da banda apresentando um ritmo lento e dicas de um lado mais sombrio, como podemos verificar com “There’ll be times / When my crimes / Will seem almost unforgivable / I give in to sin / Because you have to make this life liveable“. Não é uma letra de amor fácil ou barata – é subtil e ponderada, optando por sugerir, em vez de se expor.

Existe uma abundância de outros bons momentos que merecem destaque em “Music for the Masses”, como Sacred, que exibe uma sonoridade melíflua e exótica, ou Nothing – talvez a faixa mais agressiva num álbum relativamente suave, com bateria pulsante, sintetizadores e um refrão cativante. Uma receita bastante variada por parte da banda composta por Andrew Fletcher, Martin Gore, Alan Wilder e ‘Dave’ Gahan.

O título de “Music For The Masses” surgiu como uma piada, pois segundo Andrew Flechter “O título é […] meio que uma ironia, na verdade. Toda a gente nos diz que devíamos fazer música mais comercial, então foi por isso que escolhemos este título.

A melancolia associada aos Depeche Mode também não é ignorada: Little 15 explora um território sombrio, começando com um riff de sintetizador simples e sombrio, terminando num floreio de zumbido orquestral eletrónico enquanto Gahan canta de forma emocionante e triste. I Want You Now é igualmente sombria, com uma estranha introdução em forma de respiração e letras carregadas sobre uma necessidade desesperada em ter alguém. Existem até algumas teorias do que os Depeche Mode fariam nos seus álbuns posteriores, como “Violator” (1990), com o começo de Never Let Me Down Again em formato riff de guitarra a entrar e a sair da melodia.

Com este “Music for the Masses”, os Depeche Mode mostraram ao mundo um crescimento extensivo das suas raízes alegres e otimistas do synth-pop, para um quarteto sofisticado, refinado e temperamental, que produziu música eletrónica sombria e convincente. Literalmente, na verdade, como o álbum acabou por se tornar numa das obras de maior sucesso da banda até agora, o grupo acabou por conquistar uma base de fãs crescente não apenas na Europa e no Reino Unido, mas também nos Estados Unidos da América. Um álbum consistentemente sublime, cheio de clássicos discretos e absorventes, obrigatórios para todos os fãs de música eletrónica.

Carlos Pereira

Rating: 3.5 out of 4.

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